O aumento do preço do combustível autorizado pelo governo federal deverá contribuir de 0,20 a 0,55 ponto percentual no índice da inflação para o mês de dezembro em Curitiba. A estimativa foi feita ontem pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) e pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos (Dieese). O impacto maior de 0,55 foi calculado pelo Dieese.
Segundo o economista do Dieese, Cid Cordeiro cada ponto percentual de aumento na gasolina representa 0,07 ponto no índice final da inflação. "O impacto, no entanto, pode ser menor se os postos decidirem dar descontos nas próximas semanas", afirmou Cordeiro.
A prática de descontos tem sido constante após o aumento. O economista do Ipardes, Gino Schlesinger, confirma que os pesquisadores do instituto costumam registrar uma redução no preço do combustível após algumas semanas do reajuste. A gasolina tem um peso de 2,49% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) calculado pelo Ipardes junto a famílias que tenham renda que varia de um a 40 salários mínimos. Para fazer uma comparação, os alimentos "in natura" pesa 1,8%
Para Schlesinger, a decisão do governo de reajustar o combustível e ainda fixar um gatilho para aumentos ou reduções trimestrais do preço, a partir de abril, representa uma "resposta mais rápida ao mercado internacional". Ele não acredita, no entanto, que a indexação seja um fator de risco para a retomada da inflação ou para não atingir a meta estipulada para este ano de 6%.
O economista do Dieese também não aposta num retorno do processo inflacionário, mas critica a atitude do governo. "Quando o governo indexa parte dos preços ele pode estar recriando uma cultura de indexação", comentou Cordeiro.
Cordeiro lembra, entretanto, que a prática do gatilho e da indexação não é nova. Todas as tarifas públicas têm um reajuste anual, que vai de junho a agosto. "O governo vive uma contradição. Ele apregoa a desindexação, mas é o maior indexador", disse.
O presidente do Conselho Regional de Economia, Luis Eduardo Sebastiani, também concorda com a contradição do governo. "O esforço da estabilidade era para tirar o dólar como um indexador da economia, mas agora, pelo petróleo, o governo traz o dólar como referência", disse. Em sua avaliação, seria mais produtivo para o País reduzir a taxa de juros em vez de sustentar a estabilidade em cima da conta petróleo.