A retração do consumo doméstico derrubou em 4,2% a produção industrial em abril, ante igual mês do ano passado. O resultado foi o pior registrado desde dezembro de 2001 (-6,4%) e representou a primeira taxa negativa de produção do setor desde junho do ano passado.
O chefe do Departamento de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, disse nesta segunda que ''as pressões negativas'' no mercado interno estão ''se sobrepondo aos focos de crescimento industrial'', como exportações, agroindústria e petróleo.
Esses focos de dinamismo da indústria, que garantiram sucessivos crescimentos do setor, não têm sido mais suficientes, segundo Sales, para neutralizar as quedas na produção em segmentos voltados para o mercado interno.
Ele destacou áreas tipicamente voltadas para o consumo doméstico que puxaram para baixo a produção em abril, como insumos para construção civil (-14,1%), embalagens (-6,7%) e eletrodomésticos (-14,9%).
A retração do consumo interno neutralizou também os efeitos positivos das exportações na produção de automóveis, que caiu 18,2% ante abril do ano passado. Sales disse que a produção industrial ''provavelmente'' está respondendo às quedas das encomendas do comércio, prejudicado pela queda no rendimento dos trabalhadores, juros altos e inflação elevada.
Segundo Sales, a queda na produção é resultado da ''redução do consumo interno, queda nos investimentos e efeito calendário''. O efeito base de comparação, ou calendário, ocorreu porque abril deste ano registrou dois dias úteis a menos do que igual mês do ano passado e, ainda, em 2002 o mês apresentava um nível elevado de produção.
Sales avalia que a desaceleração industrial é confirmada pelo resultado da produção em abril na comparação com março (-0,1%), que apresentou queda sobre uma base de comparação já deprimida, já que em março houve redução de 3,3% na produção ante fevereiro.
Os dados acumulados da produção industrial também confirmam a redução do ritmo de atividade do setor. Os resultados de abril reduziram a produção acumulada no ano para 0,6% no primeiro quadrimestre, resultado bem abaixo dos 2,4% acumulados no primeiro trimestre. Em 12 meses, a variação até abril atingiu 2,5%, também menor do que a taxa anualizada até março (3,4%).
A redução do consumo doméstico atingiu em cheio o segmento de bens semiduráveis (confecções e calçados) e não-duráveis (farmacêuticos e alimentos, por exemplo). Segundo o IBGE, a queda de 10,6% na produção de bens semiduráveis e não-duráveis em abril, ante igual mês do ano passado, foi a maior redução na base de comparação para estas categorias desde agosto de 1992. Os produtos que mais contribuíram para a queda foram farmacêuticos (-25,5%), confecções (-35,7%), calçados (-16,4%) e alimentos e bebidas (-13,5%).
Ainda em termos das categorias de uso pesquisadas pelo IBGE, houve redução também em bens de consumo duráveis (-13,6%), com destaque para automóveis (-18,2%) e eletrodomésticos (-14,9%), ambos afetados pelas restrições ao crédito.
A retração do mercado doméstico reduziu também a produção de bens intermediários (-1,8%), enquanto a queda em investimentos provocou redução no segmento de bens de capital (-6,7%).