Divulgados como alternativa para reduzir a folha de pagamento das empresas sem deixar desamparados os funcionários demitidos, os programas de demissão voluntária (PDV) não constituem bom negócio para qualquer das partes envolvidas.
Uma pesquisa realizada pela professora Zuleica Amaral Alves de Lima e as estudantes Thais Accioly Baccaro e Flávia de Miranda Meneghetti, do departamento de Administração de Empresas da Universidade Estadual de Londrina (UEL), levantou que grande parte dos trabalhadores que aderem ao programa sofrem redução da renda familiar e de padrão de vida.
As empresas, tampouco, contabilizam lucros com a iniciativa: a redução com despesa de pessoal não chega a 10%. Além disso, as companhias perdem capital intelectual e ganham concorrentes, já que os ex-funcionários vão trabalhar em outras empresas do setor ou abrem seus próprios negócios na área.
As pesquisadoras ouviram 100 trabalhadores desligados de empresas de telecomunicações e instituições financeiras de Londrina e região. Os dois setores foram escolhidos porque, tradicionalmente, investem em tecnologia e acabam extinguindo postos de trabalho.
Cinquenta e quatro por cento dos trabalhadores ouvidos trabalharam em ex-estatais que foram privatizadas. Com relação às empresas, apenas quatro das companhias contatadas responderam ao questionário da pesquisa.
Ao contrário do que imaginavam a professora e suas alunas, é alto o número de trabalhadores com nível superior que aderem ao PDV. Elas levantaram que 41% dos entrevistados possuiam terceiro grau completo e 7% deles eram pós-graduados. Além disso, 47% tinham mais de 20 anos de casa. ''São pessoas que sairiam com um bom capital e que entenderam que teriam boas oportunidades no mercado'', analisou Zuleica.
A realidade, porém, se mostrou diferente. Cinco por cento dos trabalhadores levaram mais de um ano para arrumar emprego, enquanto 25% abriram seu próprio negócio e 21% continuavam desempregado. A maioria deles (58%) enfrentou queda na renda familiar e 43% reduziu o padrão de vida.
Outra conclusão é que o PDV a que aderiram os entrevistados não foi voluntário, como o nome do programa sugere. De acordo com a professora, foram programas de demissão incentivada. ''Ou o trabalhador aderia, ou seria demitido do mesmo jeito. Não havia escolha'', analisou, acrescentando: ''Trata-se de um programa de demissão em massa amenizado.''