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Vale paga US$ 3,8 bilhões pela Bunge no Brasil

27 jan 2010 às 16:18

A mineradora Vale anunciou a compra por 3,8 bilhões de dólares das operações de produção de fertilizantes no Brasil da gigante do setor agrícola Bunge Ltd, em negociação que aumenta significativamente sua atuação global na área de adubos.

A Vale adquiriu 100 por cento das ações da Bunge Participações e Investimentos (BPI), empresa que reúne vários ativos na parte de mineração e processamento de fertilizantes no Brasil.


A Vale buscava ampliar sua atuação no setor, que avalia como estratégico devido às perspectivas de aumento da demanda global por alimentos nos próximos anos, com o crescimento da renda nos populosos países emergentes.


O movimento da mineradora também deverá agradar o governo brasileiro, que busca reduzir a dependência do país do adubo importado, atualmente em cerca de 70 por cento do volume total, e que já havia sinalizado à mineradora que gostaria de ver uma atuação maior nesta área.


Momento oportuno


Já a Bunge, em comunicado, avaliou que o momento foi oportuno para deixar a área de produção de fertilizantes e concentrar recursos em áreas agroindustriais em que busca expansão, como o setor de açúcar e etanol.


Segundo comunicado da Vale, o portfólio da BPI no Brasil é composto pela participação de 42,3 por cento no capital total da Fosfertil, pelas quais a Vale pagará 2,15 bilhões de dólares. A Fosfertil é a maior fornecedora de produtos fosfatados e nitrogenados para a produção de fertilizantes no Brasil.


A participação comprada junto à BPI corresponde a 53,8 por cento das ações ordinárias e 36,4 por cento das preferenciais da Fosfertil.


Quando a transação for concluída, a Vale lançará uma oferta pública para comprar as ações ordinárias detidas pelos acionistas minoritários da Fosfertil.


A BPI detém ainda minas de rochas fosfáticas e plantas de processamento de fosfatados, ativos pelas quais a Vale pagará 1,65 bilhão de dólares.


Foco no mercado local


"Esta operação é de fundamental importância para a consolidação da estratégia da Vale em focar o Brasil como o grande mercado para sua produção de fosfatados, tendo em vista o potencial das minas locais, bem como o crescimento associado aos projetos desenvolvidos no exterior (...) todos com produção prioritariamente destinada ao mercado brasileiro", afirmou o presidente da Vale, Roger Agnelli, no comunicado.


A transação não envolve negócios de varejo ou distribuição de fertilizantes. A Bunge é dona de várias marcas importantes no mercado, como IAP, Manah, Serrana e Ouro Verde, e informou que terá um acordo de fornecimento com a Vale.


"É um momento oportuno para deixarmos a produção de fertilizantes no Brasil. Para manter o crescimento, teríamos que fazer investimentos de capital significativos. Com as incertezas relacionadas aos preços internacionais e ao câmbio local, acreditamos que será melhor investir em outras oportunidades", disse o presidente-executivo da Bunge, Alberto Weisser, em comunicado.


"Esta transação representa uma oportunidade de realizar o valor destes ativos imediatamente a um preço atraente. Nos permite redirecionar capital para aumentar a escala de nossos negócios de produtos e ingredientes alimentícios e agronegócio em nível global, além de ampliar nossa expansão em cadeias de valor complementares, como a de açúcar", acrescentou Weisser.


O negócio representa ainda uma volta ao passado da Vale, já que em 2003 a mineradora vendeu a sua participação na Fosfertil para a própria Bunge por 240 milhões de reais.


Ativos


De acordo com a Vale, a BPI é a segunda maior produtora de fertilizantes fosfatados no Brasil, fornecendo 14,2 por cento do consumo total do país. Ela possui duas minas de rocha fosfática, uma em Araxá (MG) e outra em Cajati (SP). Essas operações produziram um total de 1,6 milhão de toneladas métricas em 2008.


Além das operações de mineração, os ativos englobam quatro plantas de processamento para a produção de fertilizantes fosfatados, localizadas em Araxá, Cajati, Cubatão (SP) e Guará (SP).


Já a Fosfertil é a maior produtora de fertilizantes fosfatados e à base de nitrogênio no Brasil, representando respectivamente 22 por cento e 23,4 por cento do consumo total do país.


A Fosfertil opera três minas de rocha fosfática, localizadas em Catalão (GO), Tapira (MG) e Passos (MG). A capacidade nominal total de produção é de 3,4 milhões de toneladas métricas por ano de rocha fosfática.


Além disso, a Fosfertil está desenvolvendo atualmente o Salitre, projeto novo em Patrocínio (MG), com capacidade de produção estimada preliminarmente em 2 milhões de toneladas métricas por ano de rocha fosfática.


Nos nove primeiros meses de 2009, a Fosfertil registrou uma receita líquida de 937,2 milhões de dólares, forte queda em relação ao mesmo período de 2008 (1,64 bilhão de dólares), quando o setor de fertilizantes registrou um boom, embalado pelos preços recordes de produtos agrícolas.


Estratégica


A Vale informou ainda, em comunicado separado, que celebrou contratos de opção de compra e venda de ações com a Fertilizantes Heringer e a Fertipar tendo por objeto ações de emissão da Fertifos, como parte do processo de aquisição da BPI.


De acordo com o comunicado, a Fertifos é uma empresa de capital fechado que detém 56,73 por cento do capital da Fosfertil.


A Vale tem planos adicionais para potássio no Projeto Carnalita (SE), além de Rio Colorado e Neuquén, na Argentina, e Regina, no Canadá.


Segundo a companhia, a execução desses projetos vai colocá-la entre os grandes produtores globais de potássio, com produção estimada em mais de 12 milhões de toneladas anuais.

Simultaneamente, a Vale está desenvolvendo o projeto de Bayóvar, no Peru, com capacidade de produção anual de 3,9 milhões de toneladas de concentrado fosfórico.


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