A tragédia natural do Japão deve ganhar mais peso no mercado financeiro do Brasil, diferentemente do que aconteceu nos últimos dois pregões, em que a BM&F Bovespa registrou alta. "Este evento do Japão é de longe o mais relevante para as próximas semanas e neste sentido sugerimos muita cautela com a renda variável", afirma o economista da Gradual, André Perfeito.
Até ontem a leitura dos analistas e investidores sobre a tragédia japonesa era de que no curto prazo a produção do país e importações iriam cessar, mas que no médio prazo, entre três e seis meses, a demanda por aço, minérios e outros produtos iria ser retomada mais fortemente, com a reconstrução da parte mais afetada do Japão. Por conta disso, as ações de siderúrgicas e mineradores puxaram a alta de 0,73% da Bovespa. "Mais na frente, na reconstrução, a mineração, siderurgia e petróleo vão ser beneficiadas", diz diretor da Ativa, Álvaro Bandeira.
O mercado também avaliou que o impacto direto sobre o Brasil é pequeno, pois o Japão não é representativo para o comércio do País. "Os maiores importadores de produto brasileiro são China, EUA e Argentina", diz o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi. "O Japão representa 3,5% das exportações brasileiras", lembra o economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.
O economista do Besi ressalta, porém, que em alguns setores essa participação é maior, como no caso de aves e mineração (mais de 10% das exportações). Empresas como Vale, Marfrig e BRF Foods podem ser as mais afetadas no curto prazo. "No ano passado, o Japão representou 11% do faturamento da Vale", diz Galdi.
Já indiretamente, o Brasil pode ser afetado com as conseqüências do comércio do Japão com a Europa e Ásia. "Com mais uma explosão do reator no Japão, a contração da economia japonesa pode ser maior e afetar a Europa, justamente em um momento em que o mundo começa a se recuperar", diz Serrano.
Bolsa
Contrariando o movimento observado nos dois último pregões, quando a BM&F Bovespa pareceu ignorar o efeito das tragédias naturais no Japão, a expectativa para hoje é de que a bolsa brasileira mostre mais nervosismo e leve em conta movimento negativo observado mais cedo nas bolsas da Ásia, Europa e nos futuros dos Estados Unidos. A Bolsa de Tóquio sofreu sua maior queda desde o choque provocado pela falência do banco Lehman Brothers e caiu 10,55%, devido à ampliação da crise nuclear no país que deflagrou o pânico entre os investidores.
"Hoje, dificilmente a Bolsa irá ignorar o que está ocorrendo no mundo", diz Galdi. "Ao longo do dia, a Bolsa pode até diminuir parte da queda, mas na abertura deve ser observada uma baixa significativa", avaliou Serrano, um pouco antes da abertura dos mercados.
"A maior preocupação é com a redução do crescimento global. Na prática, o Japão já apresentava problemas na economia, com uma taxa de juros de 0% ao ano e um endividamento forte", analisa Bandeira.
Poucos minutos após a abertura, o Ibovespa tinha queda de 2,36%, aos 65.614 pontos. Entre as maiores baixas do índice estava a ação ordinária da Vale, que recuava 3,55%
No exterior, as commodities também caem. O preço do petróleo recua mais de 4%. A preocupação é que a queda da demanda japonesa dure mais tempo do que o que foi inicialmente previsto. O índice futuro do Dow Jones desvaloriza-se mais de 2%.
"Vemos o dólar disparar no mundo todo na manhã de hoje como proteção às incertezas, os títulos do tesouro norte-americano estão também subindo sob a mesma lógica", diz Perfeito, da Gradual. Na abertura, o dólar teve alta de 0,96%, a R$ 1,677.