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Serviços domésticos estão cada vez mais caros

28 mar 2011 às 07:41

Valdir José Peres gosta de ser chamado de "marido de aluguel". Ele faz pequenos reparos, como trocar um chuveiro que pifou, desentupir um encanamento, consertar uma instalação elétrica. Em janeiro, reajustou de R$ 70 para R$ 80 o valor que cobra pela hora de trabalho, em uma tentativa de "selecionar" mais seus clientes. Não adiantou. Ele recusa três a quatro pedidos por dia, porque está com a agenda cheia até o fim do mês.

O dia a dia de Peres é um reflexo de uma mudança estrutural que está em curso no Brasil. Hoje é cada vez mais difícil - e mais caro - para a classe média contratar encanadores, eletricistas, pedreiros, babás, empregadas domésticas. "São profissões em extinção", diz José Pastore, professor de economia da USP e especialista em relações do trabalho.


Graças ao boom do mercado de trabalho no País, com a menor taxa de desemprego da história, esses profissionais estão deixando o trabalho informal e migrando para construtoras e empresas de limpeza. E com muitas vantagens, como carteira assinada, aposentadoria, décimo terceiro, férias remuneradas e, em alguns casos, até plano de saúde.


Especialistas dizem que o Brasil começou a trilhar um caminho já percorrido pelos países ricos, em que é praticamente inviável contratar serviços domésticos ou de pequenos reparos e a solução é fazer sozinho. O fenômeno ocorre porque a diferença entre o salário do pedreiro e do médico não é tão grande assim.


Para a classe média, essa boa notícia trouxe uma dificuldade. Os preços desses serviços estão subindo e já pressionam a inflação. No acumulado de 12 meses até janeiro, a "inflação" da empregada doméstica e dos reparos em domicílio chegou a 12%, o dobro da alta já salgada de 6% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).


Não existem dados sobre os profissionais que fazem reparos em domicílios. Há apenas alguns indicadores indiretos. O IBGE calcula que a participação dos autônomos, que inclui desde o pedreiro até o médico, na força de trabalho do País caiu de 19,1% em 2005 para 16,1% em 2010.


Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sintracom-SP), o número de pessoas empregadas na construção civil subiu de 2,2 milhões em 2008 para 3,4 milhões no ano passado. Boa parte desses profissionais "fazia bico" em residências. "Essas pessoas passaram por uma reciclagem e se inseriram no mercado formal de trabalho", diz Antonio Ramalho, presidente do Sindicato.


É o caso de Geraldo Pereira Mendonça, 52 anos. Ele aprendeu o ofício de eletricista quando ainda era jovem e trabalhou durante muitos anos "por conta". Cinco meses atrás, conseguiu um emprego com carteira assinada em uma empresa que presta serviços para construtoras e abandonou o trabalho em residências. "O salário melhorou e na minha idade já preciso pensar na aposentadoria",disse.


Babá. No serviço doméstico, uma boa babá se tornou raridade. Com curso de enfermagem, elas chegam a ganhar R$ 2 mil por mês na cidade de São Paulo.


Atualmente pode ser complicado contratar uma empregada doméstica, com uma jornada de segunda a sexta (sem dormir no trabalho), por menos de R$ 1,2 mil em São Paulo, conforme a agência de empregos domésticos Elite Brasil. "No início do ano passado, esse valor estava em R$ 800", diz o sócio-proprietário da agência, Roberto Rocha. "Estamos vivendo uma valorização da categoria, que passou a exigir os seus direitos", disse Camila Ferrari, diretora do Sindicato das Trabalhadores Domésticas (Sindoméstica).


No ano passado, 1,613 milhão de mulheres trabalhavam como empregadas domésticas no Brasil, 2,4% a menos do que em 2009, segundo IBGE. Com menos gente disponível, os salários subiram. Em dezembro de 2010, uma empregada doméstica recebia, em média, R$ 568 por mês, 5,9% a mais em relação a dezembro de 2009. O aumento é superior a alta de 3,8% do rendimento médio do brasileiro no período.


"A distribuição de renda é uma ótima notícia, mas é a classe média que vai pagar essa conta", diz Francisco Pessoa, economista da LCA. "Mais pessoas disputarão empregos típicos de classe média, pressionando os salários e os preços dos serviços que a classe média demanda".

Cimar Azevedo, gerente da pesquisa mensal de emprego do IBGE, pondera, no entanto, que a "mordomia" da classe média brasileira ainda vai durar por algum tempo, devido à escolaridade da maior parte da população brasileira. "Infelizmente temos um estoque de mão de obra despreparado para cumprir outras tarefas; uma parcela da população brasileira à sombra desse progresso", diz.


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