A despeito dos efeitos da crise em diversos setores do varejo, as redes de livrarias atravessam um período de expansão. A disseminação da fórmula das megalojas, que não ficam restritas à venda de livros, e o fato de o consumo dos produtos estar mais ligado à renda que ao crédito foram alguns dos fatores que permitiram a boa performance do segmento.
De acordo com dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE, a expansão no segmento de livrarias foi de 9,4% no primeiro quadrimestre do ano, quando comparado a igual período de 2008, O resultado é quase o dobro do observado no indicador geral entre janeiro e abril deste ano, que cresceu 4,5%.
Na rede de livrarias Saraiva, o crescimento das vendas de livros e artigos ligados à música (CDs e DVDs) surpreendeu a direção da rede. "No primeiro trimestre, tivemos uma expansão maior que a planejada no final de 2008 para estes produtos. Em compensação, a procura por itens eletrônicos, oferecidos apenas pelo site, ficou abaixo das expectativas", observa o diretor Financeiro e de Relação com Investidores do grupo. João Luís Hopp. Ele conta que, comparando-se apenas as vendas feitas em lojas já existentes no primeiro trimestre do ano passado, o crescimento da receita alcançou 11,6% entre janeiro e março deste ano. "Os livros têm sido o grande destaque. Percebemos uma migração de gastos. Em época de incertezas, os clientes estão preferindo produtos de tíquete médio mais baixo, neste contexto, as livrarias estão sendo beneficiadas", avalia ele.
Mais uma evidência de que a expansão das vendas da rede foi impulsionada pelos produtos editoriais, diz o diretor, está no gasto médio nas lojas físicas, mas voltada para livros, se manteve em R$ 65 no primeiro trimestre do ano em relação a 2008. Já na loja virtual, com forte presença de eletrônicos, o tíquete médio caiu de R$ 165 para R$ 132 em igual comparação.
Para Nilo Lopes, técnico da PMC do IBGE, este comportamento pode ser explicado pelo crescimento da renda das famílias. "O grande impacto negativo sentido pelo varejo teve como origem a redução na concessão de crédito. No caso de livros, CDs, e artigos de informática, o consumo está ligado a renda", diz ele.
A diversificação dos produtos ofertados, lembra ele, também colaborou para o aumento nas vendas. "Foi-se o tempo que as livrarias tinham características de vendas sazonais, ligadas a material escolar. Hoje, boa parte das livrarias vende material de informática, que tem sido um dos segmentos de destaques em nossa Pesquisa Mensal de Comércio", acrescenta ele.
A expansão nas vendas, no entanto, também é detectada nas redes que não trabalham com material de informática. Este é o caso da livraria carioca Letras & Expressões. "Nestes primeiros seis meses do ano, as vendas cresceram 10%", diz ele, acrescentando que as o comércio ganhou mais força a partir de fevereiro.