O ciclo de aperto monetário e a diminuição na demanda externa são apontados como possíveis razões da queda do Indicador de Produção Prevista, que faz parte da Sondagem da Indústria de Transformação e da composição do Índice de Confiança da Indústria (ICI), divulgados nesta sexta-feira, 29, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). A produção prevista caiu pelo quarto mês consecutivo e atingiu, em abril, 127,5 pontos. A quantidade de empresários que preveem redução na produção aumentou de 0,8% em dezembro para 10,4% em abril. Dos 14 gêneros industriais usados pela FGV na composição da pesquisa, 10 preveem que a produção deve diminuir nos meses de abril, maio e junho.
"Tudo indica que os empresários preveem um segundo semestre pior do que o primeiro, em termos de produção", avaliou o coordenador de Sondagens Conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Aloisio Campelo. "O ciclo de aperto monetário e a queda na demanda externa podem ter contribuído para essa projeção", disse.
O setor de Bens Intermediários - um dos cinco setores que fazem parte da pesquisa - foi um dos que mais contribuíram para a queda da produção prevista. Em janeiro, o indicador do setor estava em 132,1 pontos e, em abril, caiu para 120 pontos. Também projeta queda na produção prevista o segmento de Bens de Consumo Não Duráveis, que estava em 137,1 pontos, em dezembro, e agora, em abril, registra 132,6 pontos. Os segmentos de Bens Intermediários e de Consumo Não Duráveis, de acordo com Campelo, são os que têm maior peso na indústria brasileira.
Colaboraram ainda para queda do indicador em abril ante março os gêneros de Mecânica, Metalurgia, Minerais Não Metálicos, Material Elétrico e de Comunicações e o de Produtos Alimentares, responsável sozinho por 63% da queda do índice. "Isso pode estar relacionado com uma situação de reequilíbrio de estoques internacionais e da oferta e demanda no mercado externo", explicou o coordenador. Apenas quatro gêneros têm expectativa de aumento da produção nos próximos meses: Química, Produtos de Material Plástico, Têxtil e o agregado Outros Produtos.
Um setor importante que projeta crescimento na produção prevista é o de Bens de Capital, que registrava 120,7 pontos, em dezembro, e registrou 136 pontos, em abril. Campelo explicou que o dado mostra as características dos ciclos econômicos. "A área de investimento foi uma das que mais sofreram durante a crise. Agora, que os demais setores se recuperaram, a indústria voltou a investir e o setor de bens de capital continua a se recuperar", ressaltou. "Não dá para dizer que a indústria está pessimista, mas apenas que está antecipando uma desaceleração nos primeiros meses, depois de ter voltado a acelerar no fim do ano passado."