A região Sul do Brasil foi a que apresentou o maior avanço na demanda por crédito por parte dos consumidores em 2016, 7,2% maior em relação ao ano anterior, aponta indicador do Serasa Experian divulgado nesta segunda-feira (16). A busca por empréstimos na região composta pelo Paraná, Santa Catarina e Região Sul foi a mais expressiva entre as cinco macrorregiões do país e é quase o dobro da média nacional, de 3,7%, no mesmo período.
O avanço na obtenção de crédito, entretanto, não está relacionado ao aumento de consumo. Os empréstimos foram tomados para quitar dívidas anteriores ou para esticar prazos com parcelas menores, segundo o próprio Serasa e pela avaliação do professor do departamento de Economia da Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR) em Londrina, Marcos Rambalducci.
O economista da UTFPR ressalta o alto endividamento do paranaense e do londrinense em comparação à média nacional, conforme a pesquisa mensal de endividamento divulgada na sexta-feira (12) pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomercio PR) e a pesquisa divulgada em dezembro pela UTFPR de Londrina (que terá periodicidade trimestral).
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Em nível nacional, o comprometimento da renda do brasileiro com dívidas chega a 63,7% dos ganhos mensais, contra 86,3% entre os paranaenses e 64,8% entre londrinenses. "Como o desempenho das vendas do comércio segue os indicadores nacionais, isso aponta que a tomada de crédito é para quitar dívidas ou para trocar por outra com juros mais baratos ou parcelas menores, mesmo que mais longa", afirma.
Olhando ainda pelo percentual de dívidas em atraso, o paranaense também é mais prejudicado que a média nacional – enquanto os consumidores que afirmam ter ao menos uma conta em atraso é de 23,5% em todo o país, o índice chega a 25,6% no Paraná e, em Londrina, chega a 29,8%. "O perfil de contas em atraso maior que a média nacional pode ajudar a entender por que a demanda por crédito é maior no Sul, se isso se repetir nos outros dois Estados", diz Rambalducci.
Ainda ruim
O resultado nacional, apesar de positivo, foi o quinto ano consecutivo de fraco desempenho da demanda desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2008. Especialistas da Serasa Experian indicam que a inflação ainda alta (principalmente no primeiro semestre do ano passado), os esforços do consumidor para reduzir ou pagar suas dívidas, o elevado custo de crédito e o grau reduzido de confiança do consumidor levaram ao fraco desempenho do indicador.
O economista Luiz Rabi, do Serasa, diz que a procura por crédito em âmbito nacional contrasta com os maus resultados nas vendas do varejo, principalmente de itens financiáveis, e com a queda no endividamento, acelerada a partir de abril do ano passado. "Em abril, batemos o recorde de inadimplência, com 60,5 milhões de pessoas negativadas em nosso sistema. Isso caiu cerca de 1 milhão ao longo do ano passado, ou seja, houve uma tentativa bem sucedida do brasileiro em quitar as dívidas", afirma.
Mesmo com menos pessoas com restrições no CPF, ele alerta que o saldo ainda é alto, o que pode indicar um desempenho fraco na economia ao menos no primeiro semestre deste ano.
Demanda por faixa salarial
A demanda por crédito foi maior em 2016 por quem faixa salarial entre R$ 1 mil e R$ 2 mil (4,3% em relação a 2015) e para os que ganham de R$ 2 mil a R$ 5 mil (4,1%). Em seguida, em ordem decrescente, vêm os que se enquadram na faixa entre R$ 5 mil e R$ 10 mil (3,9%); aqueles com ganhos mensais entre R$ 500 e R$ 1 mil (3,7%) e os que tem rendimentos acima dos R4 10 mil (3,6%). Os que ganham até R$ 500 por mês tiveram uma demanda por crédito 1,1% maior no ano passado em relação a 2015.