A carne vermelha tem estado mais distante da mesa da empregada doméstica Marinês Jordão Ela sentiu o aumento do preço há mais ou menos um mês Para driblar a alta, tem escolhido o frango e a carne de porco Na hora de fazer a feira, também percebeu que algumas frutas estão com valores mais salgados, assim como o leite ''Tem que usar a criatividade na mesa para fugir do preço alto'', conta
Dados apresentados na última terça-feira pela pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central, mostram que o fantasma da inflação ronda o bolso do brasileiro nesse final de ano O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aponta que os produtos alimentícios tiveram alta de 1,89% no último mês E os valores não devem baixar tão cedo Historicamente, dezembro é um mês em que os alimentos não diminuem de preço por conta das festas de final de ano
Para o coordenador do curso de Economia da FAE, Gilmar Mendes Lourenço, o término do ano é o fator menos importante para este aumento no preço, já que é uma área bastante sensível ao mercado internacional e ao calendário das estações ''Nós estamos vivendo um período de entressafra no Brasil Como tivemos um inverno rigoroso, o custo da pecuária é mais alto devido aos custos de produção A tendência é que o mercado aproveite o crescimento da economia para elevar o preço final'', diz
Outro aspecto apontado pelo economista é a demanda internacional por produtos primários, principalmente por parte dos países asiáticos ''Enquanto a China estiver comprando tudo em commodities, vai ser difícil haver redução no preço dos alimentos''
Este mercado também tem sido instrumento de aplicação Os ativos financeiros deixaram de ser atrativos para os grandes conglomerados internacionais e há uma forte migração para a aplicação de commodities do setor Isso puxa para cima a cotação dos alimentos
''É muito difícil que haja uma reversão nestes preços Tirando a questão climática, os outros fatores são externos à economia brasileira e devem permanecer durante o primeiro semestre de 2011'', opina Lourenço
Segundo o superintendente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), Valmor Rovaris, os preços dos produtos alimentícios, principalmente de carnes, leite, frutas e cereais, são sazonais Portanto, sistematicamente, é comum que haja variação de valores em determinados períodos ''Um exemplo disso é a carne Com a seca e a crise econômica a demanda mundial diminuiu Mas estes fatores foram eliminados O mercado externo cresceu, a aftosa está equacionada, sobretudo no Paraná, e esses fatores fizeram aumentar a demanda pelo produto Isso fez com que o preço aumentasse''
Rovaris acredita que a tendência é que o valor se estabilize, mas isso vai depender do mercado internacional ''A longo prazo, desde 1994, o preço dos alimentos subiu metade da inflação média Esse significativo índice contribuiu inclusive para evitar o aumento da inflação'', diz.
Alta dos produtos já supera a inflação
Os alimentos subiram mais que a inflação neste ano A pesquisa do IPCA realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que de janeiro a outubro, alimentos e bebidas tiveram alta de 6,58% contra o índice de inflação que ficou em 4,38% Depois de Curitiba ter registrado a maior variação da cesta básica do País em outubro - com índice de 5,78% - agora, a tendência é que os alimentos continuem subindo em novembro, mas em patamar inferior a outubro Até o mês passado, a entressafra, a estiagem e problemas climáticos puxaram os preços para cima
A partir de dezembro ou início de janeiro deve iniciar uma desaceleração dos preços dos produtos alimentícios com o começo da safra para algumas culturas como batata, tomate e outros hortifrutigranjeiros Em dezembro de 2009, por exemplo, a variação de alimentos e bebidas foi de +0,24% As informações são do economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sandro Silva
Outra tendência para dezembro é que os importados segurem os preços por conta do real mais valorizado frente ao dólar Ele acredita que os alimentos tenham desaceleração de preços com a entrada da safra de alguns produtos A estimativa é que a cesta básica também tenha deflação em dezembro ou janeiro
A previsão do mercado é que inflação feche o ano em 5,48%, acima da meta do Banco Central estabelecida em 4,5% (IPCA) Possivelmente, os alimentos devem subir acima do índice de inflação e fechar o ano com alta de 7% a 8% Silva acredita que a partir de dezembro ou janeiro os alimentos podem começar a desacelerar a inflação
Nos produtos natalinos, com exceção das carnes, o superintendente da Apras, Valmor Rovaris, diz que a tendência é que os preços fiquem no mesmo nível de 2009 A previsão de Natal para este ano é favorável, não esquecendo da entrada do 13º salário, destinado em grande parte para aquecer a economia ''Apesar de todo o aumento que a carne teve, não houve redução no consumo Isso é um indicativo de que o brasileiro está com mais dinheiro no bolso'', opina Rovaris Já Silva, prevê que a indústria e o varejo aproveitem o período de Natal para aumentar os preços de produtos sazonais como aves e panetones. (Andréa Bertoldi/Equipe Folha)