O abortamento de flores e vagens e o superbrotamento são características da anomalia que podem ser observadas pelo produtor
Possível ocorrência de Soja Louca II no município de Goioerê, região noroeste do Paraná, deixa produtores e pesquisadores em estado de alerta. No início de dezembro foi constatada uma pequena área, de 400 metros quadrados, em que as plantas de soja apresentam os sintomas da anomalia. Pesquisadores da Embrapa Soja estiveram no local mas explicam que ainda não é possível confirmar se realmente se trata de Soja Louca II.
A área foi georefenciada e seu desenvolvimento continua sendo acompanhado pelas instituições de pesquisa, que também analisaram o histórico da lavoura. ''O sintoma leva a crer que seja Soja Louca II, mas ainda não podemos confirmar, pois o mesmo sintoma pode indicar vários problemas'', explica o pesquisador da Embrapa Soja, Dionisio Gazziero. O monitoramento das plantas, para verificar se os demais sintomas continuarão aparecendo, será feito até o final do ciclo, que deve durar aproximadamente 60 dias.
As plantas afetadas pela anomalia apresentam sintomas desde o estágio vegetativo. Dentre eles, está o afilamento das folhas, no qual as nervuras laterais ficam mais em paralelo com a nervura central. Foi justamente esse o sintoma detectado na área de soja em Goioerê. Outros sintomas da anomalia são: folhas com coloração mais escura, engrossamento e enrugamento das nervuras, abortamento de flores e vagens, superbrotamento, haste com deformação em arestas, vagens com necrose e rachaduras, grãos maiores e em menor quantidade e retenção foliar, assim, a soja continua verde, mesmo com aplicação de herbicidas dessecantes.
As lavouras atingidas pela anomalia sofrem grandes prejuízos de produtividade, que podem chegar a até 40%. ''O problema é grave pois as plantas praticamente não conseguem concluir o ciclo produtivo'', reforça Gazziero. Segundo o pesquisador, já foram levantadas várias suspeitas sobre os possíveis causadores da Soja Louca II, mas nenhuma das hipóteses foi confirmada. Até o momento, foram confirmados casos isolados, mas que já vem trazendo prejuízo econômico, em lavouras das áreas mais quentes do cerrado, principalmente nos estados do Mato Grosso, Maranhão, Tocantins e Pará. De acordo com o Gazziero, a maioria das ocorrências foi registrada em áreas onde a anomalia já havia aparecido em safras anteriores. A diferença é que os prejuízos econômicos são mais graves neste ano.
Com o intuito de buscar mais informações que possam auxiliar no controle da doença, foi criado um grupo de trabalho que reúne pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), representantes da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) e fundações de pesquisa estaduais. Para tanto, foram montadas unidades experimentais de observação nas propriedades atingidas.
Como as causas ainda não são conhecidas, consequentemente, não é possível definir as formas de controle da anomalia. A orientação dada aos sojicultores no momento é para que façam o monitoramento das lavouras e fiquem atentos para a incidência dos sintomas. ''Até que sejam esclarecidas as causas da anomalia, não existem orientações específicas para o controle da Soja Louca II. Apenas orientamos que sejam mantidas as práticas adequadas de manejo da área e da cultura'', argumenta Gazziero.
O nome Soja Louca II faz referência à Soja Louca, em que as plantas também apresentavam problema de retenção foliar. No entanto, esse problema anterior era causado por um percevejo e já foi controlado. Segundo o pesquisador, em 2009, o Paraná registrou vários problemas de retenção foliar, mas eles não foram caracterizados como Soja Louca II.