O desempenho das contas nacionais na passagem do primeiro para o segundo trimestre mostra a persistência de problemas relacionados ao baixo investimento e à resistência da indústria em mostrar recuperação, apontam especilistas. O Produto Interno Bruto (PIB) registrou aumento de apenas 0,4% no período - resultado, contudo, melhor que o do trimestre anterior, de alta de 0,1%, segundo dado revisado.
Segundo o economista e professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, o lado da demanda dentro do PIB está sendo minado pela baixa Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que caiu 0,7% na comparação com o primeiro trimestre deste ano e 3,7% perante o segundo trimestre de 2011.
"O número mostra que o governo tem uma missão a cumprir por meio de aumento em investimentos públicos, que ficaram estancados no segundo trimestre por problemas de gestão em ministérios e falta de projetos", avalia Rochlin.
Pelo lado da oferta, diz Rochlin, o PIB no período continuou sendo prejudicado pela anemia do setor industrial, que deu uma contribuição negativa para a conta do período, con retração de 2,5% perante os primeiros três meses deste ano. Na mesma base comparativa, o recorte da indústria de transformação apontou um tombo de 5,3%. Na avaliação do professor, o resultado ruim no setor continua sendo justificado pelo câmbio desfavorável, especialmente nos segmentos exportadores.
Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, o baixo investimento reflete, em parte, a incerteza com as regras no Brasil. O desempenho, segundo ele, está amparado essencialmente na baixa confiança dos empresários, não só pelos fatores de risco da crise externa, mas também pelas incertezas sobre as regras domésticas para investimentos produtivos. "O conjunto de regras muda muito rápido no Brasil e desestimula o investimento", diz Schwartsman.
Com a taxa de investimento tão baixa, a avaliação do economista é de que o PIB potencial do País, que é a capacidade da economia crescer sem pressão inflacionária, está ainda mais distante das taxas entre 4% e 4,5%. "Essa convicção não existe mais". O investimento reduzido, diz, também está associado à baixa qualidade dos desembolsos do governo, que amplia o gasto público corrente e tem menos espaço para aplicar.
Queda de exportações prejudica a atividade
O desequilíbrio da balança comercial também deu forte contribuição para o baixo crescimento do PIB no segundo trimestre. O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, destaca a queda das exportações (-3,9% ante o primeiro trimestre), especialmente de itens manufaturados para a Argentina. "Esta questão vem sendo minimizada, mas agora ficou claro que está havendo um vazamento externo do PIB", diz Leal.
"Apesar da desvalorização importante em relação ao nível do dólar no início do ano, as exportações não reagem rapidamente", diz Rochlin, do Ibmec e da FGV, ao lembrar que relações comerciais que vêm sendo desfeitas pelo problemas de competitividade levam tempo para serem retomadas, mesmo em um cenário de moeda mais favorável.
Para Rochlin, o protecionismo do governo argentino teve influência negativa no PIB brasileiro, mas de maneira mais modesta do que o cenário internacional. "Conta mais a desaceleração global da demanda gerada pela crise na Europa e nos Estados Unidos", opina.
Economistas projetam PIB inferior a 2% em 2012
Mesmo com a piora dos números de investimento, PIB industrial e de contas externas entre os meses de abril e junho, Schwartsman mantém sua previsão de crescimento de 1,5% para o ano de 2012, mas avalia que essa taxa agora está no teto de suas estimativas e que aumentou a hipótese de que o PIB cresça menos do que isso neste ano.
A ajuda positiva, segundo ele, deverá vir do consumo das famílias. Apesar do crescimento de apenas 0,6% do primeiro para o segundo trimestre, Schwartsman avalia que o consumo das famílias vem mostrando um crescimento sustentado e tem espaço para crescer daqui para o final do ano, conforme se der também o recuo do inadimplência.
Já o economista-chefe da LCA, Braulio Borges, manteve sua projeção de expansão da economia de 1,7% para 2012. "Com os fortes estímulos fiscais anunciados pelo governo nesta semana, entre eles juros reais negativos para quem comprar caminhões, o PIB deve pegar tração no segundo semestre, puxado por investimentos", disse.