O governo do Paraná cogita embargar a entrada de carne do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina em seu território, caso os dois Estados não derrubem as restrições contra a carne paranaense.
Quem fala em usar o "princípio da reciprocidade" é o secretário de Agricultura paranaense, Newton Pohl Ribas. Ele vai se reunir nesta quarta-feira (17) com representantes dos governos catarinense e gaúcho para debater o assunto. O Ministério da Agricultura foi chamado pelo Paraná para mediar a discussão.
A carne paranaense não pode entrar nos outros dois Estados do Sul desde outubro de 2005, quando surgiu a suspeita de que um foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul teria atingido também seus rebanhos. Santa Catarina só autoriza a entrada de carne de outros Estados se for desossada e para industrialização. No Rio Grande do Sul, a restrição é total.
Com isso, produtores do Paraná deixam de arrecadar R$ 16 milhões por mês, segundo o sindicato local do setor. Os dois vizinhos do Sul adquiriam 10,6% da produção paranaense de suínos e 6% de bovinos. Há três meses, uma instrução normativa do Ministério da Agricultura dizia que o Estado está livre do problema. O secretário de Agricultura do Paraná diz que vai esgotar "todas as vias administrativas, técnicas e diplomáticas" para encerrar as restrições.
Mas fala que pode recomendar ao governador do Estado, Roberto Requião (PMDB), que adote o princípio da reciprocidade e proíba a entrada de carnes gaúchas e catarinenses."Não entendo as restrições. O que sinaliza para nós é uma proteção de mercado", diz.
Ribas reconhece que a medida agravaria a situação. "Mostraria ao mercado internacional que estamos em uma guerra comercial entre Estados." Ele também acusa os dois vizinhos de desrespeitarem uma instrução normativa do governo federal, que autorizou a comercialização da carne.Recém-empossado, o secretário de Agricultura de Santa Catarina, Antônio Ceron, tem a mesma reclamação em relação ao Rio Grande do Sul, que proíbe a entrada de carne de qualquer outro Estado, e diz estar aberto a negociações.
O secretário interino de Agricultura do Rio Grande do Sul, Celso Bernardi, diz compreender os argumentos do governo do Paraná, mas considera que a revogação da medida depende de estudos técnicos e de uma avaliação do impacto da liberação no mercado gaúcho. Devido à mudança de comando na secretaria, a restrição segue ao menos até fevereiro.Bernardi argumenta que o Estado não desrespeita a instrução do Ministério da Agricultura, que, segundo ele, dá margem a interpretações.
Para o secretário de Defesa Agropecuária da pasta, Gabriel Maciel, a permanência das restrições "não faz sentido". "Estamos tentando abrir o mercado externo e não podemos ter barreiras entre Estados."O Paraná busca recuperar o status de área livre de febre aftosa com vacinação segundo a Organização Mundial de Saúde Animal. A previsão é que consiga o atestado até março. As informações são do Portal do Agronegócio.