Com o risco de fechar as contas no vermelho pelo quinto ano consecutivo, a diretoria dos Correios começou a estudar alternativas para reduzir os benefícios dos funcionários. Nos cálculos da empresa, seria possível economizar R$ 2 bilhões por ano se os benefícios fossem limitados apenas ao que exige a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Também está sendo avaliada uma restrição no plano de saúde, em que os dependentes ficariam de fora. Os dados constam em estudo feito pela direção da estatal.
A reportagem apurou que a direção elaborou um levantamento interno para avaliar a diferença entre o que é pago atualmente aos 109 mil empregados - que são celetistas mas com estabilidade no emprego - e as exigências da CLT usadas por empresas públicas e privadas. A diferença entre o praticado no mercado de trabalho para grande parte da população e o que é pago pelos Correios alcança aproximadamente R$ 800 milhões anuais.
Além disso, a empresa economizaria mais R$ 1,2 bilhão se deixasse de pagar assistência médica para pais e filhos dos empregados, como é feito hoje. Com dependentes, o plano custa R$ 1,8 bilhão em 12 meses. Além dos funcionários da ativa, o plano contempla 27,7 mil aposentados.
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Na prática, o montante economizado, de R$ 2 bilhões, é superior ao déficit previsto pela empresa para 2017, de R$ 1,3 bilhão. A estatal, palco inaugural do mensalão há mais de dez anos, também terminou no vermelho em 2015 e em 2016.
O estudo foi feito para embasar as negociações do acordo coletivo de trabalho para os anos de 2017 e 2018, com mediação do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Isso não significa, porém, que será utilizado pela direção como proposta oficial para os funcionários. Entre os benefícios que a empresa pretende tesourar estão: gratificação de férias, vale alimentação, vale refeição durante as férias, vale cesta extra e vale cultura.
A maior economia seria na gratificação de férias complementar. Hoje, os funcionários recebem 70% de gratificação de férias - enquanto os trabalhadores da iniciativa privada recebem um terço. Isso representa hoje um custo de R$ 303 milhões num ano. Caso a estatal seguisse o adicional de férias tradicional, o valor dispensado seria de R$ 144 milhões, o que representaria uma economia de R$ 159 milhões por ano.
O presidente dos Correio, Guilherme Campos, disse que os benefícios foram acordados quando a empresa tinha monopólio de mercado. "Com a queda do monopólio, fica impossível a estatal ter dois terços de seu custo só com salários e benefícios", disse.
A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares contesta o argumento de que a empresa tenha prejuízo. Os trabalhadores acusam a direção de "maquiar" o balanço e argumentam que os benefícios superiores ao definido pela CLT funcionam como compensação pelos baixos salários.