O economista e ex-ministro Delfim Netto disse hoje, em palestra no Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (Feed 2010), promovido pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que o "Brasil tem uma 'autobahn' de oportunidades nos próximos 25 anos". A referência está ligada ao termo de língua alemã que define as estradas de alta velocidade.
Boa parte do otimismo de Delfim deve-se à descoberta dos recursos energéticos do pré-sal, que torna menos provável a repetição de crises no balanço de pagamentos que, reiteradamente, assolaram o País por décadas, até o início dos anos 2000. "Estamos em posição muito mais confortável do que tivemos nos últimos 50 anos", disse. "Temos que saber aproveitar bem esse bônus concedido pela natureza."
Delfim observou ainda que o petróleo, cada vez mais, deve ser direcionado para finalidades mais nobres, como a petroquímica, em consequência de sua crescente substituição pelos biocombustíveis na matriz de transportes. "O petróleo é do século 20 e está sendo progressivamente substituído como matriz para os transportes. Há até aviões 747 já voando em caráter experimental com combustível alternativo", lembrou.
Agronegócio
O ex-ministro destacou ainda que o agronegócio é outro diferencial estratégico para o Brasil, com os ganhos de produtividade verificados nas últimas décadas e a posição alcançada como maior produtor líquido de alimentos. "A partir de 2003, tivemos um bônus recebido do mundo, com o aumento do preço das commodities", disse. "Nos dois governos de FHC, foram oito anos em que nossas exportações não eram capazes de sustentar o ritmo das importações", acrescentou Delfim, referindo-se à queda de preços no período entre 1995 e 2002, que limitou o crescimento das exportações em valor, apesar do aumento da quantidade exportada no período.
A partir de 2003, com o reforço do papel da China no comércio mundial e o enfraquecimento do dólar, houve uma "explosão de preços" que se manteve até 2008, o que significou uma ampliação de 22% das exportações em valor no período.
Delfim destacou também o papel dos Estados Unidos como produtor agrícola e como concorrente na produção de energias renováveis. "Os Estados Unidos não estão nisso por causa da energia verde. Os EUA estão procurando recuperar a autonomia energética. Eles não pretendem ser grandes importadores de biocombustíveis, mas sim grandes produtores."
O economista acrescentou que, "nesse mundo da energia renovável, o Brasil tem enormes vantagens comparativas", citando aspectos como acesso à água e ganhos de produtividade. Segundo ele, "não há no Brasil conflito entre a produção de energia renovável e a produção de alimentos."