Diante da veemente recusa do sócio Casino, a fusão entre o Pão de Açúcar e as operações brasileiras do Carrefour fracassou. O negócio perdeu o apoio do governo, com a desistência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e o empresário Abilio Diniz desistiu.
O grupo de investidores liderados por Diniz - reunidos na holding Gama, com apoio do banco BTG Pactual - suspendeu ontem "temporariamente" a proposta pelo Carrefour. Em nota divulgada à imprensa, os investidores reiteraram que a proposta era "amigável" e "sujeita a aprovação dos acionistas".
Diniz e o Casino são sócios na Wilkes, holding que controla o Pão de Açúcar, desde 1999. Em 2005, o sócio francês pagou US$ 1 bilhão para assumir o controle em 2012. Segundo alguns analistas, o empresário brasileiro se arrependeu do negócio e vem tentando uma saída desde o início de 2010. A operação com o Carrefour seria uma maneira de mudar o jogo de forças dentro da Wilkes. A defesa da união com o Carrefour feita por Diniz, no entanto, foi outra: ela daria escala ao Pão de Açúcar e criaria valor para o acionista.
A proposta de fusão começou a desmoronar definitivamente ainda na manhã de ontem (horário do Brasil). Em reunião extraordinária em Paris, o conselho de administração do Casino recusou por unanimidade a proposta de fusão de Pão de Açúcar e Carrefour.
O grupo francês definiu a fusão como "contrária aos interesses" dos acionistas, baseada em uma visão estratégica "errada" e em estimativas de sinergias "fortemente superdimensionadas". Desde o início do processo, o Casino já vinha dizendo que não concordava com o negócio e chegou a abrir processo de arbitragem internacional.
Diniz participou da reunião do conselho em Paris, mas se absteve de votar. Logo em seguida, reuniu-se pessoalmente, pela primeira vez desde o início da briga, com Jean-Charles Naouri, presidente do Casino. Naouri, que havia classificado o negócio de "expropriação" quando esteve no Brasil, manteve sua posição na conversa com Diniz.
O Casino enviou então um e-mail solicitando a antecipação da reunião do conselho da Wilkes, que tinha sido marcada por Diniz para 2 de agosto. Segundo fontes da empresa francesa, não valia a pena esperar, porque a decisão de rejeitar a fusão já havia sido tomada.
BNDES
No fim da tarde, foi a vez de o BNDES desistir de apoiar o negócio. O banco estatal, que havia se comprometido a avaliar um aporte de R$ 4,5 bilhões, vinha sofrendo uma enxurrada de críticas. Havia questionamentos sobre sua interferência numa briga entre sócios e a injeção de recursos públicos para fundir duas empresas francesas (Carrefour e Casino).
O BNDES divulgou uma nota informando que a direção da BNDESPar, subsidiária de participações em empresas, desistiu de levar a proposta à análise da diretoria. "Como reiterado em diversas oportunidades, o pressuposto da eventual participação nesta operação era o entendimento entre todas as partes envolvidas", frisou o texto.
Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff se encontrou com Luciano Coutinho, presidente do BNDES. Segundo uma fonte do banco, a decisão não foi tomada a pedido de Dilma. A motivação teria sido o entendimento do corpo jurídico do banco de que o resultado da reunião extraordinária do Casino pode ser considerado como uma formalização de que não houve acordo entre os acionistas.
Em meio à pressão, Diniz não viu outra alternativa senão desistir. Segundo uma fonte próxima ao Pão de Açúcar, a decisão foi motivada por uma "conjunção de fatores": a recusa do Casino, a perda de apoio do BNDES e a rejeição da opinião pública.
"Só se falou nos problemas da operação. Nós não conseguimos explicar os benefícios", disse a fonte. "É difícil continuar morro acima depois disso tudo." Segundo essa fonte, a fusão de Pão de Açúcar e Carrefour pode até ser retomada no "futuro", mas, por enquanto, a ideia é "acabar com essa história" e tentar conter a "animosidade" entre os sócios.
Diniz não chegou a cogitar levar a situação às últimas consequências e ir à Justiça, porque o processo poderia provocar uma forte perda de valor da empresa.