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Metalúrgicos lamentam demissões e lay off em montadoras

06 jul 2015 às 15:31

Funcionários de empresas montadoras de automóveis da região do ABC paulista estão apreensivos diante das últimas demissões e suspensões de contrato de trabalho, no chamado sistema de lay off.

Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), divulgados hoje (6), 36,9 mil empregados estão em lay off (suspensão temporária do contrato de trabalho) em todo o país.


Na empresa Mercedes-Benz, trabalhadores ficaram acampados em frente à fábrica, em São Bernardo, por 26 dias, em protesto contra 300 demissões. O operador de máquinas José Djalma de Souza, de 41 anos, está entre os demitidos. "Eu me senti inútil, sem valorização nenhuma", disse. Djalma trabalhou por 13 anos na empresa.


Na última quinta-feira (2), os funcionários rejeitaram a proposta da Mercedez de reduzir em 20% a carga horária dos empregados, diminuindo em 10% os salários, por um período de um ano. A proposta, votada em urnas, garantiria a estabilidade no emprego por um ano e o retorno de parte dos trabalhadores demitidos.


Em comunicado, a Mercedes-Benz informou que a proposta era necessária diante da forte queda de vendas de veículos comerciais no mercado brasileiro, que tem afetado os negócios da empresa. Diante da rejeição, a montadora "terá de buscar outras alternativas frente a um excedente de 2 mil pessoas na fábrica".


Djalma era favorável à proposta. "Ficamos chateados [com o resultado da votação], porque o individualismo está demais. As pessoas estão muito egoístas só pensando nelas. Tinham que pensar no monte de famílias que está aqui fora, não só em si", disse Djalma.


O soldador Danilo Gritti, de 29 anos, também foi demitido. Ele trabalhou na Mercedez por 14 anos, e também era favorável à proposta. "Estou confiante que haja, nos próximos dias, um acordo com o sindicato para a nossa readmissão. Nenhuma redução de salário é boa, mas dentro da conjuntura, a proposta até que foi adequada".


Danilo, agora, tem dúvidas sobre o que fará no futuro. "Eu sou professor de sociologia, por formação, mas os professores estão numa situação pior que os metalúrgicos. Fica difícil uma realocação. De primeiro momento, estou pensando em alguns bicos", lamentou.


José Roberto Nogueira da Silva, diretor de organização do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, defende uma negociação. "Os trabalhadores entenderam que não era o momento de aceitar essa proposta, mas o sindicato está pronto para negociar qualquer contrapartida que venha resolver o problema. É muito difícil fazer esse debate no chão de fábrica, os trabalhadores estão cansados. A empresa tem que fazer um movimento que atenda às necessidades dela, mas que atenda também a dos trabalhadores. Não pode ser uma via de mão única", declarou.


Na Volkswagem, também em São Bernardo, 2.357 trabalhadores da Fábrica Anchieta tiveram hoje (6) seus contratos suspensos por cinco meses, em lay off. "É lógico que os trabalhadores com contratos suspensos ficam apreensivos. A gente tem conversado muito com eles, que sabem a importância de ter um acordo que os garante dentro da fábrica". Segundo o sindicato, os funcionários têm um acordo com a empresa que impede demissões até 2019.


Pela medida de lay off, os trabalhadores recebem os salários de forma integral, metade pagos pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e a outra metade pela própria empresa. Além desse sistema, de acordo com o sindicato, a Volkswagem encerrou o terceiro turno, que permitia que a fábrica funcionasse no período noturno. Os cerca de 1,8 mil empregados que trabalhavam à noite foram realocados para outros horários.


De acordo com o sindicato, no ano passado, a fábrica produzia 1,4 mil veículos por dia, número que caiu para 800 este ano. A Fábrica Anchieta emprega 11 mil pessoas, sendo 8 mil apenas na produção.


Segundo José Roberto, uma solução esperada pelas centrais sindicais é que o governo federal aprove o Programa de Proteção ao Emprego (PPE). "É uma ferramenta de flexibilidade que não suspende o contrato de trabalho e pode reduzir a jornada de trabalho", explica. O programa seria válido para todos os setores da economia, não apenas montadoras.

A Agência Brasil entrou em contato com a assessoria de imprensa da Volkswagen, que informou que não comentará o assunto.


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