Na tarde de sexta-feira, o mercado futuro de juros indicava que a Selic, a taxa básica de juros, vai cair dos atuais 11,5% ao ano para pouco menos de 10% em abril. Desde outubro, à medida que a crise europeia ia se agravando, as taxas dos contratos futuros tiveram tendência de queda, refletindo projeção de cortes mais acentuados da Selic nos próximos meses. O contrato de janeiro de 2013, por exemplo, saiu de 10,39% em 27 de outubro para 9,97% no fim da tarde de sexta-feira.
A aposta do Banco Central (BC) no forte impacto da crise europeia na atividade econômica no Brasil parece ter sido plenamente aceita pelo mercado financeiro. Em 31 de agosto, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a Selic de 12,5% para 12%, parte expressiva dos analistas reagiu com contrariedade, considerando a ação prematura diante do quadro internacional ainda incerto.
Agora, a situação europeia deteriorou tanto que o mercado parece antever quedas da Selic ainda mais fortes do que a comunicação do BC, que tem reiterado a expressão "ajustes moderados".
"Os spreads dos bônus italianos foram subindo e a gente viu aqui os DIs (contratos futuros de juros) indo para baixo", diz Carlos Kawall, economista-chefe do banco de investimento J. Safra. Ele se refere ao fato de que, à medida que piorava a percepção de risco da Itália, os juros pagos pelo governo do país para colocar títulos públicos foram aumentando, chegando a se distanciar em mais de cinco pontos porcentuais do custo de captação da Alemanha no pior momento da crise.
No extremo, para quem já vê um cenário de ruptura da zona do euro como o mais provável, a Selic pode cair bem abaixo de 9% em 2012. Mas essa é uma aposta minoritária, que não se reflete até agora no mercado futuro. O fato de que o mercado financeiro agora projeta firme queda da Selic, acompanhando o agravamento da crise internacional, não quer dizer que há aprovação unânime da estratégia do BC.
"Uma coisa é dizer que o mercado está prevendo, outra é dizer que todo mundo concorda com isso", diz um ex-diretor do BC. Ele nota que, de fato, na última semana o mercado futuro começou a projetar aceleração dos cortes da Selic, inclusive indicando em alguns dias a possibilidade de que o corte da taxa básica nas reuniões do Copom de dezembro e janeiro seja de mais de 0,5 ponto porcentual. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.