A Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto) espera que os incentivos do governo para a compra do carro novo termine beneficiando também o setor de automóveis usados, mas avalia que ainda é cedo para tirar conclusões.
De acordo com o presidente da Fenauto, Ilídio Gonçalves dos Santos, antes das medidas, por causa da inadimplência, a cada dez fichas cadastradas nas financeiras com solicitação de crédito, apenas duas eram aprovadas. Ele acredita que, com prazos menores e garantias maiores, a situação possa melhorar.
"Inadimplência chegou ao ponto dos bancos se retraírem, mas acredito que, com com prazos de financiamentos de 48 meses (quatro anos) e não de 60 meses (cinco anos), e com o pagamento de uma entrada de 20% do valor total, será mais seguro. É mais curtinho e o crédito pode voltar", disse à Agência Brasil.
Dados divulgados ontem (25) pelo Banco Central (BC) mostram que a inadimplência do crédito para a compra de veículos alcançou 5,9%, em abril, a maior da série histórica iniciada em 2000. Na avaliação do chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, a maior demanda dos clientes e cautela dos bancos devem levar à redução da inadimplência.
Ilídio Gonçalves defende que as regras sejam mais estáveis, sob o argumento de que não é interessante que em uma hora se abra demais a concessão de crédito e em outra se feche. Um ponto ideal, no seu entender, seria que os bancos mantivessem em 40% a 45% as aprovações dos pedidos de crédito.
O dirigente entende também que a redução do Imposto sobre Produtos Industrializado (IPI) influenciará progressivamente o preço do carro zero, mas não será uma queda considerável.
"É só comparar os descontos que eram dados, coisa de R$ 2 mil a R$ 5 mil. Precisamos ver o que vai acontecer agora, se irão diminuir o IPI e a partir da redução aplicar novos preços com desconto. Porque, se diminuir o IPI e não der desconto, ficará seis por meia dúzia", alertou.
Uma alternativa muito discutida e que reduziria parte dos problemas de inadimplência seria a portabilidade de crédito. O direito, no entanto, na prática não pode ser exercido pelo consumidor, que não encontra facilidade para transferir os contratos de um banco para outro.
O Ministério da Fazenda informou no início do mês que está atento ao assunto, principalmente para o crédito imobiliário, mas não informou, até agora, quando e se alguma nova medida será divulgada em breve.
Ilídio Gonçalves reclama do governo porque entende que a área econômica prestigia mais as montadora e as concessionárias, mas esquece do setor de seminovos. "É a alavanca do carro zero. Nós somos um setor muito importante nessa cadeia e não temos beneficio nenhum do governo", disse.
Pelos números apresentados pelo presidente, a Fenauto representa 45,2 mil lojas cadastradas na Receita Federal e distribui em todo o Brasil 9,5 milhões de veículos ao ano.
"Há seis, sete anos enquanto as concessionárias vendiam um carro zero, o setor de seminovos e usados vendia cinco. No final de 2008, passou a ser uma proporção de um carro para um e no ano passado, para cada carro novo a proporção ficou em 2,7 carros. O cidadão, na maioria, adquire um seminovo ou usado antes de comprar um carro zero".