Nem mesmo a informação de que Guido Mantega poderá ser mantido no Ministério da Fazenda, como vem antecipando a cúpula petista, tem sido capaz de reduzir as dúvidas do mercado sobre o futuro da política econômica.
A avaliação é que a presidente eleita Dilma Rousseff e sua equipe ainda emitem "sinais trocados" sobre seus planos.
Como exemplo, citam o fato de Dilma já ter sinalizado que comandará a política monetária mais de perto, com o objetivo de estimular uma redução dos juros no ano que vem – o que representaria uma linha mais desenvolvimentista.
Neste caso, poderia haver perda de autonomia na ação do Banco Central, uma das marcas do governo Lula, levando muitos analistas a esperar um período de inflação maior no país.
Ao mesmo tempo, a equipe de transição também fala em um esforço para reduzir a dívida líquida de 41% do PIB para o patamar de 30% até 2014, o que vai de encontro à corrente desenvolvimentista.
Para André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, a permanência de Mantega está mais para uma "alteração" do que para uma "continuidade" da política econômica.
"Ao insistir na tese da guerra cambial, o ministro gerou constrangimentos importantes ao Banco Central, que se vê hoje de mãos atadas para conduzir a política monetária como vinha sendo feito nos últimos oito anos", diz o economista em seu relatório.
Preocupado com a valorização do real frente ao dólar, Mantega tem acusado outros países, como Estados Unidos e China, de estimular a desvalorização de suas próprias moedas, prejudicando as exportações de outros países.
Alta dos juros
Como a elevação da taxa básica de juros, a Selic, tende a valorizar ainda mais a moeda brasileira, o economista da Gradual acredita que esse movimento acabaria contrariando o discurso da Fazenda.
"A permanência pura e simples de Mantega não irá surtir os efeitos desejados ao conduzir as expectativas de continuidade econômica", diz.
Já o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, não vê grandes mudanças com a permanência de Mantega na Fazenda.
"Não estou vendo nenhuma guinada. Esse contraste entre Fazenda e Banco Central continuará existindo, porque esse é um contraste do país", diz o economista.
"O mercado está nervoso, mas acredito que seja uma situação típica da fase de transição", acrescenta.
Banco Central
Com a informação de que Mantega continuará no cargo, os analistas de mercado agora aguardam alguma sinalização sobre quem ocupará o Banco Central (BC).
O atual presidente do BC, Henrique Meirelles, confirmou nesta sexta-feira ter recebido um convite de Dilma Rousseff para que ambos se encontrem na semana que vem, a fim de discutir a situação.
Diante das incertezas na economia internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria sugerido a permanência de Meirelles. A presidente eleita, no entanto, ainda considera a hipótese de substituí-lo.