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Mais pobres cortam em 11% compra de produtos básicos

25 abr 2013 às 11:56

Pressionada pela alta de preços dos alimentos, a inflação de produtos acumulada em 12 meses ultrapassou, pela primeira vez desde novembro de 2011, a de serviços em fevereiro e março. A reação a essa mudança foi imediata: as classes de menor renda, D e E, que gastam a maior fatia do que ganham com produtos, frearam as compras e cortaram em 11% as quantidades consumidas de itens básicos, especialmente alimentos, no primeiro bimestre ante o mesmo período de 2012.

Isso é o que mostram um estudo da Federação do Comércio (Fecomércio) de São Paulo, que captou a mudança do perfil da inflação a partir de dados do IPCA para a cidade de São Paulo, e uma pesquisa da Kantar Worldpanel, que visita semanalmente 8.200 domicílios no País para radiografar o consumo.


"Fizemos uma edição extra da nossa pesquisa de consumo porque a indústria estava preocupada", diz Christine Pereira, diretora da Kantar Worldpanel. No primeiro bimestre, antes de o governo desonerar os produtos básicos, o consumo da cesta, para todas as classes sociais, de 78 categorias de itens pesquisados, caiu 5% em número de unidades na comparação com igual período de 2012. Nessa mesma base de comparação, a quantidade ficou estável para as classes A e B e caiu 3% para a classe C.


O tombo nas quantidades consumidas ocorreu nas classes D e E, exatamente aquelas que sustentaram o crescimento das vendas de itens básicos em 2012, observa Christine. No ano passado, as classes D e E tinham ampliado em 3% as quantidades compradas de itens da cesta e desembolsaram 9% a mais por isso. Agora, as famílias mais pobres cortaram em 11% as compras e tiveram um gasto em reais 6% maior por causa da disparada da inflação.


Além de cortar as quantidades compradas, as famílias em geral, exceto as das classes A e B, reduziram a frequência de compras para economizar. No primeiro bimestre foram, em média, 26 idas aos supermercados, ante 28 no mesmo período de 2012. Christine destaca que o bolso das famílias mais pobres ficou apertado porque elas gastam mais com produtos do que com serviços.


Perfil


Foi exatamente essa mudança de perfil da inflação, provocada pela alta de preços dos produtos, que o estudo da Fecomércio-SP registrou. Fábio Pina, assessor econômico da entidade, elaborou um índice para apurar o custo de vida das classes sociais na cidade de São Paulo com base em dados apurados pelo IPCA para a capital.


Dos cerca de 400 preços pesquisados pelo IPCA, a medida oficial de inflação, ele considerou 85% deles, tidos pelo economista como básicos. Depois disso, Pina ponderou os itens por classes sociais.


O resultado mostrado por esse indicador é que a inflação acumulada em 12 meses até março subiu 6,18%, com os produtos registrando alta de 6,56% e os serviços (incluindo os preços dos serviços administrados) tendo aumentado 5,78% no período. "Foi a primeira vez desde novembro de 2011 que a inflação acumulada dos produtos ultrapassou a dos serviços", afirma Pina.


Essa inversão de padrão, isto é, a variação dos preços dos produtos ultrapassando a d os serviços, castiga toda a população, mas é mais relevante para os mais pobres, diz o economista.


Em 12 meses até março, por exemplo, a inflação de produtos por esse indicador foi de 8,16% para a classe E e de 8,30% para a classe D. Enquanto isso, para as classes A e B, as elevações foram de 3,72% e de 5,21%, respectivamente. Para a classe C, a nova classe média brasileira, a alta acumulada foi de 6,8% em 12 meses até março.


Apesar de salgada para todos, a elevação dos preços dos serviços castigou nesse período a população de maior renda. Em 12 meses até março, os serviços subiram 6,48% para a classe A e 6,65% para a classe B. Já para as classes C, D e E, as elevações acumuladas foram menores, de 5,48%, 4,07% e 4,23%, respectivamente.


"Inflação de serviços é renda na veia", diz Pina. Nas suas contas, para as classes D e E, os serviços respondem por 40% do custo de vida e os produtos por 60%. Para as camadas mais ricas, os serviços consomem 52% da renda e os produtos, 48%.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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