O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a importância de uma ação conjunta, ou "além de fronteiras", para lidar com os principais temas da agenda econômica mundial e da mudança de clima no globo. "Não tenho a ilusão de que poderemos resolver nossos problemas sozinhos, apenas no espaço nacional. A economia mundial é interdependente. Estamos todos obrigados a atuar além de nossas fronteiras. Por isso, é imprescindível refundar a ordem econômica mundial", afirmou, nos debates da Assembleia Geral das Nações Unidas, que representa 192 países.
O presidente brasileiro citou, em particular, três questões que considera cruciais e interligadas. "A persistência da crise econômica, a ausência de uma governança mundial estável e democrática e os riscos que a mudança climática traz para todos nós", foram os temas enumerados. Os três temas têm um denominador comum, segundo Lula, e a abordagem deles é a forma para "reparar tantas injustiças e de prevenir novas tragédias coletivas. Não basta remover os escombros do modelo que fracassou, é preciso completar o parto do futuro", afirmou o presidente.
Do lado da economia, nas reuniões do G-20 e em outros encontros com diferentes lideranças mundiais, Lula lembrou que tem insistido na "necessidade de irrigar a economia mundial com importantes créditos". "Tenho defendido a regulação financeira, a generalização de políticas anticíclicas, o fim do protecionismo, o combate aos paraísos fiscais", completou.
Quanto a uma governança estável, o presidente brasileiro disse que "não é possível que, passados 65 anos, o mundo continue a ser regido pelas mesmas normas e valores dominantes quando da conferência de Bretton Woods. Não é possível que as Nações Unidas, e seu Conselho de Segurança, sejam regidos pelos mesmos parâmetros que se seguiram à Segunda Guerra Mundial."
O presidente pondera que o mundo experimenta um período de transição no âmbito internacional e que isto não representa um conflito para as Nações Unidas. "Ao contrário. Poderá ser um fator de revitalização da ONU", avaliou. Esta mudança que inclui um Conselho de Segurança renovado, aponta Lula, dará condições à ONU para solucionar os conflitos do Oriente Médio, garantindo a coexistência de um Estado Palestino com o Estado de Israel, para enfrentar o terrorismo sem criar estigmas entre etnias e religiões e promovendo o diálogo. O presidente avaliou ainda que, sem vontade política, vão persistir "anacronismos como o embargo à Cuba".
Na arena climática, Lula reiterou o que disse em jantar realizado ontem, nas Nações Unidas, afirmando que o País "está cumprindo a sua parte. Vamos chegar a Copenhague com alternativas e compromissos precisos", afirmou. Ele compara que a matriz energética brasileira é uma das mais limpas do planeta, citando que 45% da energia consumida no País é renovável. "No resto do mundo apenas 12% é renovável, enquanto nos países da OCDE essa proporção não supera 5%. Oitenta por cento de nossa eletricidade provém igualmente de fontes renováveis", acrescentou. Na outra ponta, Lula disse que "deve-se exigir dos países desenvolvidos metas de redução de emissões muito mais expressivas do que as atuais".