Na última década, o salário proveniente do trabalho perdeu peso no rendimento dos brasileiros mais pobres, graças aos programas de transferência de renda. No entanto, o benefício não serviu como estímulo para que se deixasse de trabalhar. Pelo contrário, a taxa de ocupação dessa população até aumentou.
Para medir o impacto da transferência de renda sobre o mercado de trabalho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) separou os dados das famílias com renda per capita de até um quarto de salário mínimo e renda de um quarto a meio salário mínimo. "Como são famílias de rendimento muito baixo, a gente acha que são beneficiárias de programas de transferência de renda e complementação de renda", afirmou Bárbara Cobo, pesquisadora do IBGE.
Nas famílias com renda per capita de até um quarto de salário mínimo, a renda proveniente do trabalho representava 78,5% do que essas famílias ganhavam em 2002 e passou a representar 58,5% em 2012. Ao mesmo tempo, a participação de outras fontes de renda aumentou, de 14,3% em 2002 para 36,3% em 2012. Em paralelo, a taxa de ocupação dessa fatia da população cresceu de 76,9% para 78,2%. "As políticas de transferência de renda não levam a esse ''desincentivo'' ao trabalho. As pessoas continuam trabalhando", observa Bárbara.
Na faixa de renda per capita que vai de um quarto de salário mínimo a meio salário mínimo, o movimento se repetiu: a participação do trabalho na renda das famílias saiu de 78,3% para 72,3% em 2012, enquanto a fatia da renda obtida por outras fontes subiu de 6,5% para 12,9%. O rendimento médio teve aumento em todas as camadas da população no País entre 2004 e 2012, mas foi maior justamente na base da pirâmide, nas faixas com rendimento mais baixo.