Enquanto o Brasil vencia em campo e avançava na Copa do Mundo, a confiança do consumidor mostrou sensível melhora. Mas após o fatídico dia 8, quando a seleção brasileira foi atropelada pela Alemanha por 7 a 1, o índice perdeu o fôlego e caiu, permanecendo num nível menos elevado até o fim da apuração, no dia 22. Mesmo assim, o saldo final foi aumento de 3% na confiança do consumidor em julho, puxada por uma avaliação mais positiva sobre a economia atual, informou ontem (25) a Fundação Getulio Vargas (FGV), responsável pelo indicador.
"Não mudou nada na economia para que tivesse melhora. Teve desaceleração nos preços dos alimentos, e isso tem influência, sim, principalmente nas classes de renda mais baixas. Mas não existiu outro fator que fosse tão forte a ponto de provocar isso", ressaltou a economista Viviane Seda, responsável pela Sondagem do Consumidor da FGV. "Isso mostra como um fator completamente exógeno pode influenciar a percepção dos consumidores sobre a economia."
Esta foi a primeira vez em que os pesquisadores da instituição se dedicaram ao acompanhamento diário de uma sondagem. A ideia era verificar se a realização do Mundial no País teria interferência nos resultados - até porque a pesquisa é realizada em sete capitais, todas cidades-sede. E houve interferência.
O impulso veio de uma sensível melhora na percepção sobre a economia no momento atual, cujo indicador avançou 8,8%. Os efeitos foram ainda mais potentes no Rio (16,7%), cidade que recebeu milhares de turistas durante o evento e conviveu com um ambiente mais favorável para o emprego temporário.
Em junho, a confiança das famílias já havia subido 1%, ajudada pela Copa e interrompendo uma tendência de recuos expressivos desde o início do ano.
Sem recuperação
Diante da constatação da influência do evento, a economista da FGV observou que não se pode falar em recuperação. As expectativas apontam forte pessimismo, e a confiança de modo geral está deprimida a níveis semelhantes a 2009, ano posterior à crise financeira mundial.
O economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências, também adotou cautela e, diante dos efeitos da Copa, não interpretou o resultado como uma melhora no sentimento das famílias. "Não é óbvio afirmar que há reversão sustentada da trajetória de queda do índice", disse. A equipe econômica do Bradesco, contudo, viu no resultado sinal de "alguma retomada do consumo das famílias" nos próximos meses.
A Copa do Mundo ainda interferiu nas avaliações dos consumidores sobre o mercado de trabalho. No geral, houve uma queda de 2,7% no índice de emprego atual, mas entre as capitais as tendências foram distintas.
No Rio, a alta de 10,2% ocorreu por conta da criação de vagas temporárias, com destaque para os serviços. Já em São Paulo, onde a indústria tem participação importante na economia e teve perdas com os feriados provocados pela Copa, houve queda de 11,1% neste quesito.
Por outro lado, na capital paulista, as famílias se mostraram mais otimistas com o mercado de trabalho no futuro, com alta de 8,7%. Mas o resultado tem de ser relativizado, alerta Viviane Seda, já que o alento pode ser apenas no sentido de frear o movimento de dispensas na indústria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.