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Espanhóis pioram currículo para concorrer a empregos

03 fev 2012 às 11:41

Para aumentar suas chances de conseguir emprego, profissionais na Espanha estão escondendo qualificações em seus currículos, segundo uma pesquisa de consultorias e sindicatos.

Pesquisas anteriores diziam que um em cada dez espanhóis mentem nos seus currículos, no sentido de melhorar suas qualificações.



Mas a grave crise econômica que atinge o país com a maior taxa de desemprego da União Europeia (22,9%), está levando engenheiros, administradores de empresa, técnicos de informática e até ex-diretores a 'piorar' currículos em busca de empregos de baixa qualificação.


É o caso de José Ángel Silvano, economista. Em 2010 fechou sua própria empresa de logística e desde então não tem trabalho. Atualmente, no seu currículo consta pouco mais de "responsável, com iniciativa e experiência".


"Tirei os cargos de direção, a graduação universitária e deixei só os idiomas e conhecimentos variados para ver se assim encaixo em outros perfis. Para mim não é mentir, mas ocultar informação que possa dar imagens prejudiciais: que sou qualificado demais ou incapaz de cumprir postos considerados menores", contou ele à BBC Brasil.


O caso dele não é uma exceção. "Você se surpreenderia com a quantidade de universitários que estão procurando trabalhos em supermercados" afirmou à BBC Brasil, Martín Sanchez, estudante de Filosofia.


"Uma degradação absoluta", disse ele, membro do grupo Juventude Sem Futuro, que organiza protestos em Madri por causa da falta de perspectivas.


A cada dia, 10% dos desempregados lançam no mercado currículos profissionais ocultando dados, segundo a pesquisa das consultoras Adecco, Manpower e sindicatos Comissões Operárias e União Geral dos Trabalhadores (UGT) apresentada em janeiro.


A estratégia de mentir nas referências tem nome: Currículo B. Mas o fato de dar uma imagem pior é um fenômeno novo e que está aumentando, de acordo com os especialistas em Recursos Humanos.


"Mentir não costuma ser boa saída, nem para os que inflam, nem para os que ocultam", explicou à BBC Brasil a diretora de análise de mercado da UGT, Adela Carrión.


"Embora neste caso possa ser visto com uma opção de não dar mais detalhes do que o necessário. Uma adaptação do currículo aos requisitos específicos da oferta".


A pesquisa indica que a maioria dos que escondem dados é de profissionais experientes do setor de serviços que estão mais de um ano sem emprego e de universitários recém-formados com alto nível de qualificação.


A situação dos mais jovens traz à tona um contraste inusitado à realidade do mercado de trabalho espanhol. Essa mesma geração, dos nascidos a partir de 1980, é considerada a que teve menos oportunidades nos últimos 40 anos, é tida como a com o mais elevado grau de educação da história do país, segundo a Pesquisa Nacional de População Ativa.


Pelos dados oficiais, 39% dos espanhóis entre 25 e 35 anos tem diploma universitário, enquanto a média da U.E. é de 34%. Ao mesmo tempo a taxa de desemprego para este grupo na Espanha é de 48.7%.


Entre os qualificados que trabalham, 44% tem empregos abaixo do seu nível de formação.


Repercussões psicológicas


Para o catedrático em Economia Aplicada da Universidade Pompeu Fabra, José Montalvo, esta situação pode ter repercussões psicológicas nos trabalhadores.


"O perigo de que estes jovens tão qualificados permaneçam em empregos abaixo de seus padrões é que acabem aceitando isso como realidade. Psicologicamente se verão afetados, deixando de desenvolver estímulos e metas".


Os autores da pesquisa concordam. Desvalorizar os currículos "gera frustração a longo prazo" e se a empresa descobre o engano "se romperá a relação de confiança, porque fica claro que assim que o profissional encontrar uma oportunidade de acordo com sua formação, abandonará a empresa", diz o documento.


Uma solução pode ser emigrar. Além da alta taxa de desemprego, 37,7% dos jovens espanhóis têm contratos de trabalho temporários, média salarial de 800 euros (R$ 1.900) e 62% se dizem tão desmotivados que não veem futuro profissional no país.


Para o sociólogo Eusébio Megías, a questão é mais complexa porque "a crise modificou muitos conceitos".

"Um deles é que já não se procura o trabalho maravilhoso. Agora simplesmente o fim é encontrar um trabalho. E o horizonte do mercado já não é a sua própria cidade. Mas qualquer parte do mundo. Tudo está globalizado", concluiu.


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