A valorização do dólar ainda não foi suficiente para reverter a queda das exportações brasileiras de manufaturados, mas tem permitido a empresas nacionais conquistar contratos externos por apresentarem preços competitivos internacionalmente.
No início de dezembro, a MVC Soluções em Plásticos, de São José dos Pinhais (PR), iniciou o envio, para a Alemanha, de casas pré-fabricadas para abrigar refugiados sírios. Em São Paulo, a loja de carros de luxo Stern, na avenida Europa, está exportando modelos Mercedes-Benz usados também para a Alemanha, de onde foram importados quando novos.
"Com a situação do câmbio, está mais em conta comprar aqui do que na própria Europa", diz Walter Raucci, proprietário da Stern. Há três semanas ele enviou, por navio, quatro unidades da série especial SLS para um revendedor de Hamburgo.
Gilmar Lima, diretor-geral da MVC, diz que o primeiro contrato das casas pré-fabricadas prevê o envio mensal de 100 kits, compostos por paredes interna e externa, forro, estrutura do telhado e sistema elétrico e hidráulico. A montagem será feita por profissionais alemães, com assessoria de pessoal da empresa brasileira.
A previsão é entregar 1,2 mil kits no próximo ano, contrato avaliado em R$ 65 milhões - o dobro da receita prevista pela empresa neste ano, de R$ 120 milhões. "Temos outros países interessados, como França, Áustria, Hungria e Turquia, mas ficará para uma segunda fase."
As casas foram adquiridas por um grupo de investidores europeus. Elas serão revendidas ao governo alemão que, por sua vez, as construirá em áreas específicas para abrigar refugiados, especialmente sírios. A Alemanha é o principal destino europeu de imigrantes e refugiados da Ásia e da África. Neste ano, já recebeu 965 mil pedidos de asilo, ante 173 mil em 2014.
A primeira casa da MVC está sendo montada em Bremen, num galpão, para passar por processo de homologação. Outras 40 unidades seguirão em janeiro. O volume será ampliado gradualmente até chegar a 100 kits mensais. As casas precisaram ser adaptadas para enfrentar o rigoroso inverno local.
"Estamos nos preparando para, a partir de abril, ampliar nossa capacidade produtiva para 400 casas por mês", diz Lima. A empresa já exportou o produto para outras regiões, como América Latina e África. A MVC pertence aos grupos Artecola e Marcopolo e fornece imóveis pré-fabricadas para o governo, pelo programa Minha Casa Minha Vida. A empresa também desenvolve parceria com um grupo argentino para montar uma fábrica naquele país em 2016.
Caminho de volta. Entre 2010 e 2012, cerca de 60 a 80 unidades do esportivo de luxo SLS AMG, da Mercedes-Benz, foram importadas da Alemanha e vendidas no País a partir de US$ 360 mil, o equivalente, na época, a cerca de R$ 650 mil. Por ter produção limitada, o modelo, famoso pelas portas tipo asa de águia, hoje tem grande procura no mercado de usados e o Brasil entrou na mira de interessados.
"Com a alta repentina do dólar no Brasil, é mais vantajoso comprar aqui", afirma Raucci. Segundo ele, o SLS ano 2011 custa US$ 110 mil no mercado local (cerca de R$ 440 mil), enquanto na Europa é vendido por US$ 150 mil a US$ 180 mil (R$ 600 mil a R$ 720 mil), dependendo da quilometragem e das condições do carro. "Mesmo tendo de pagar em média US$ 8 mil (R$ 24 mil) para o transporte, ainda compensa", diz.
Raucci vendeu quatro esportivos SLS para alemães (um deles conversível) e tem pelo menos mais 20 encomendas. "É um fato inédito exportar modelos Mercedes-Benz que foram produzidos lá", afirma. Outra vantagem, diz ele, é que automóveis dessa categoria rodaram pouco no País. "Temos versões que rodaram apenas 5 mil quilômetros." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.