O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou nesta quarta-feira, 24, que deixará o cargo. "Acredito que um profissional deve iniciar e concluir sua missão na hora certa", disse ele, durante entrevista coletiva na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Meirelles lembrou que regras prudenciais aconselham que um presidente do BC não fique mais do que dois mandatos à frente da autoridade monetária, o que, no Brasil, coincide com o mandato do presidente da República. "É o momento adequado para encerrar a missão." Meirelles disse que não vai deixar o Banco Central antes do dia 31 de dezembro. Questionado se estava triste em deixar o BC, Meirelles foi enfático: "Estou feliz, gratificado e realizado".
Meirelles informou que o anúncio a ser feito da nova equipe econômica será de três nomes. Meirelles, no entanto, não quis dar detalhes sobre as indicações que serão feitas pela presidente eleita Dilma Rousseff. "Não há nenhuma indicação oficial de escolha dos três nomes. Não posso comentar", ponderou ele, ressaltando que qualquer comentário seria inadequado. "Eu não sou de tomar esse tipo de atitude", completou. Segundo fontes do governo, porém, o novo presidente do Banco Central no governo Dilma Rousseff será Alexandre Tombini, atual diretor de Normas da instituição.
Ele salientou que o Brasil é um País que tem respeitabilidade internacional, bem como o BC, que tem o respeito dos órgãos internacionais. "Isso (a saída do BC) não é algo para ser anunciado em momento inadequado, gerando incertezas e custos desnecessários ao País", alegou. "É uma decisão pessoal minha. Tenho recebido enormes manifestações de carinho dentro e fora do BC, nas ruas, no exterior", enumerou.
O presidente acredita que o BC conclua agora mais esse ciclo, com sua saída, um ciclo que conceituou de "sucesso". Segundo ele, a saída foi acertada com a presidente eleita Dilma Rousseff. "Já conversamos longamente", afirmou ele, sem, no entanto, dizer se a conversa foi ontem ou hoje. Meirelles disse também que o anúncio da nova equipe será feito pela nova presidente da República mais tarde e que não seria elegante de sua parte dar pistas a respeito de seu substituto.
'Decisões acertadas'
O presidente do Banco Central avaliou que as recentes decisões tomadas durante sua carreira, numa dualidade entre política e economia, foram acertadas. Meirelles salientou que, quando tomou a decisão de reiniciar sua curta carreira política, que durou apenas seis meses, antes de ficar à frente da autoridade monetária se tratou de uma opção consciente. "Também em março de 2010, decidi permanecer no BC de forma consciente para concluir a missão, analisou.
Aquele não era o momento certo para concluir a missão, na avaliação de Meirelles, porque a economia não demonstrou uma recuperação tão rápida quanto a se esperava depois dos impactos da crise financeira internacional. "Fatos posteriores me comprovaram que, infelizmente, não era mesmo o momento certo", resumiu, citando como exemplos a crise na Europa, a possibilidade de duplo mergulho da economia mundial e problemas de evolução de preço de alimentos e de algumas commodities mais recentemente. "Além do mercado financeiro. A decisão de ter ficado mostrou-se adequada."
Sobre seus próximos passos, Meirelles foi lacônico: "Aí sim vamos pensar no futuro e em outras alternativas". Ele contou que seu pai tomou a decisão de se aposentar aos 90 anos de idade e, meses depois, avaliou que foi uma ação precipitada.
Balanço positivo
O presidente do Banco Central também fez um balanço positivo da instituição ao longo do governo Luiz Inácio Lula da Silva durante a entrevista. Meirelles reiterou que a sua intenção e objetivo eram concluir o trabalho junto com o presidente Lula. "Foi um governo de sucesso que mudou a face do País", afirmou. Ele destacou sobretudo que a inflação está na meta e que as taxas de juros caíram. Meirelles fez questão de destacar que no início do governo Lula, em 2003, a economia tinha um crescimento médio em torno de 2% e a inflação acumulada registrava patamares muito elevados.
Ele destacou que em maio de 2003 a inflação acumulada em 12 meses estava em 17%. "A inflação está na meta e tem estado na meta",afirmou. Ele destacou que o Brasil enfrentou com sucesso a crise de 2008.
O presidente do BC abriu a entrevista falando sobre o caso Panamericano, que segundo ele, foi mais um momento de sucesso. Ele ressaltou que a solução para o Panamericano não trouxe prejuízos para os cofres públicos e nem para os depositantes e o sistema financeiro. Segundo Meirelles o custo foi totalmente assumido pelo controlador, com o apoio do Fundo Garantidor de Crédito. "É mais uma história de sucesso no Brasil de enfrentamento de problemas", disse. Em tom de alerta, Meirelles destacou que não se deve ignorar que a economia e o sistema financeiro tem problemas e que a questão é como enfrentá-los.