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Downgrade cria novas barreiras de investimento para o varejo

13 set 2015 às 16:23

Os planos de investimentos das redes de varejo ganham novas barreiras com a decisão da Standard & Poors (S&P) de retirar o grau de investimento concedido ao Brasil. Com a alta do custo de capital decorrente do rebaixamento, as companhias tendem a acentuar o movimento já em curso de preservar o próprio caixa, comentam especialistas. Com isso, esforços para reduzir custos podem ainda levar a fechamento de lojas e demissões.

"O varejo vai ter que olhar operação por operação e entender quais lojas vão ser sustentadas pelos próximos anos, até porque o horizonte é de continuidade de um cenário desafiador pelo menos até 2017", diz Ana Paula Tozzi, sócia da GS&AGR Consultores. Ela acredita que varejistas deverão intensificar as decisões de fechar lojas menos rentáveis para reduzir custos, diminuindo o número de funcionários. "Aliado a isso, temos um cenário de crédito mais caro, que vai fazer com que haja mais sentido deixar dinheiro no bolso", acrescenta.


O cenário é mais delicado para varejistas com níveis de endividamento mais altos, comentaram em nota Guilherme Assis e Felipe Cassimiro, analistas da Brasil Plural. As ações do Magazine Luiza, por exemplo, já haviam sido penalizadas em outros momentos porque a companhia é mais endividada que concorrentes e as vendas do setor de eletrônicos andam em baixa. Lojas Americanas tem tido seu lucro afetado pelo impacto da alta de juros no custo de sua dívida, o que também afeta a subsidiária de comércio eletrônico B2W. Em meio a um processo de mudanças operacionais, a Marisa Lojas ainda sofre para recuperar vendas e tem um indicador de dívida líquida sobre Ebitda de mais de 2 vezes, mais alto do que concorrentes.


Frear a expansão é uma decisão difícil para varejistas porque nos últimos anos o crescimento das vendas tem dependido cada vez mais da capacidade das empresas de abrir lojas. Com o enfraquecimento do consumo, redes grandes conseguiram aumentar vendas porque ganharam fatia de mercado, entrando em novas regiões. Segundo estudo da Cielo, as inaugurações de novas lojas responderam por 4 pontos percentuais da taxa de crescimento média de 9% ao ano do varejo de móveis e eletrodomésticos nos últimos cinco anos. Em supermercados e hipermercados, com taxa de crescimento de 13% no período, a expansão respondeu por 2 pontos porcentuais.


Por isso mesmo, a expectativa é que devem se sobressair companhias com baixo endividamento e forte geração de caixa, que ainda podem manter algum plano de inaugurações, embora não sem cautela. Esse tem sido o discurso de empresas como a Lojas Renner e o Grupo Pão de Açúcar (GPA).


"Apesar da dificuldade de crédito, a janela de oportunidades para expansão está boa porque o custo de aluguel diminuiu", comenta Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). "Empresas que têm caixa podem aproveitar essa janela", comenta.


Embora haja oportunidades diante do maior espaço para se negociar aluguéis, a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) vê impacto negativo sobretudo para lojistas menores e franqueados. "As redes de franquia, assim como os próprios shoppings, estão repensando muito lançamentos de novas unidades", afirma Luis Augusto Ildefonso da Silva, diretor de Relações Institucionais da entidade. "A rede pode até ter na carteira de franqueadores excelentes candidatos, mas o momento é inglório e por isso muitos tendem a esperar", acrescenta.


Importações e inflação


O outro lado da perda do grau de investimento do Brasil é o risco de desvalorização ainda mais pronunciada do real ante o dólar. A depreciação afeta o preço de importados num momento em que já há uma série de outros fatores elevando preços. Por outro lado, a alta de estoques tende a fazer com que esse efeito demore a chegar no consumidor.

No varejo de vestuário, o impacto tende a ser mais demorado uma vez que as coleções de verão - que ocupam as lojas até o final deste ano - já estão definidas. Já em eletrônicos, boa parte dos varejistas acabou antecipando compras no primeiro semestre tentando driblar a alta do dólar e tem produtos em estoque, conforme vêm reportando as próprias varejistas e representantes da indústria.


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