O mercado doméstico amanhece fazendo contas, tentando avaliar o impacto das medidas cambiais anunciadas ontem à noite. Entre a maioria dos operadores, no início desta manhã, o sentimento é de que, enquanto ainda há dúvidas sobre o custo adicional criado pelas mudanças, os investidores farão um ajuste de alta nas cotações do dólar.
Até porque, ainda que venham a se mostrar pouco eficientes para elevar o valor da moeda norte-americana no decorrer do tempo, o consenso é de que as novas regras não são inócuas e exigirão, no mínimo, um ajuste inicial. Por volta das 9h58, o dólar comercial subia 1,20%, a R$ 1,684.
As maiores incertezas recaem sobre o aumento do IOF sobre as margens de operações com derivativos cambiais, que pulou de 0,38% para 6%. Para o operador da Interbolsa, Ovídio Pinho Soares, "é difícil mensurar o efeito disso, mas a considerar o número real, a alteração é pesada". Numa conta grosseira, o especialista lembra que, num depósito de margem de R$ 1 milhão, a alíquota anterior representava R$ 3,8 mil e, agora, passará a ser de R$ 60 mil. "A diferença é grande, mas a mudança de estratégia depende da disponibilidade de caixa do investidor e da aposta", disse.
O operador da Renascença, José Carlos Amado, também diz que ainda há dúvidas sobre as próprias medidas e sobre seus efeitos, mas aposta numa correção para cima nas cotações durante o pregão desta terça-feira. "O mercado vai ajustar para cima e as operações de arbitragem devem estancar, de início", disse. Ainda assim, tanto Amado quanto Soares avaliam que a tendência de queda do dólar vai continuar, já que ela é internacional.
Em relatório a clientes, a MCM Consultores Associados ressalta que uma "alternativa para fugir do IOF sobre o câmbio para depósitos de margem poderá ser a utilização de fiança bancária", já que esse instrumento ficou de fora da incidência do imposto. Ainda assim, os analistas da MCM ressaltam que o aumento de procura por fiança bancária deve causar "algum impacto em seu custo".
Para a consultoria, o impacto sobre a taxa de câmbio será modesto, pois "as operações preferidas dos investidores estrangeiros são aquelas de maior prazo". Nos cálculos da MCM, a rentabilidade das operações com prazos superiores a dois anos continuam atraentes, mesmo com o IOF de 6%. Já Soares avalia que o governo mira os especuladores de curto prazo que, a seu ver, são "o grande volume do dólar futuro". "Com mais 2% na renda fixa e 6% nas margens, as operações de curto prazo ficam inviabilizadas", avalia.
Lá fora, hoje, a trajetória do dólar diante de outras moedas emergentes contribui com o esforço do governo brasileiro de limitar a valorização do real. A moeda norte-americana sobe diante de outras divisas.