Os brasileiros despendem cerca de R$ 5,1 bilhões por ano em dízimos ou outros tipos de doações para igrejas e orfanatos. A estimativa foi feita nesta sexta-feira (04) pelo economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apresentada durante a divulgação da 2ª parte do estudo ''Economia das Religiões: Aspectos Locais e Ascensão Social''. ''Esse valor supera o que é divulgado oficialmente pelas empresas em investimentos de responsabilidade corporativa'', afirmou o economista, durante entrevista coletiva.
A projeção se baseia em uma atualização com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) até este ano, dos R$ 3,7 bilhões informados pelos entrevistados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), e que foi considerada para elaboração do ''Economia das Religiões''.
De acordo com o estudo, em 2003 os brasileiros destinavam cerca de R$ 1,76 ao mês per capita, R$ 2,26 em valores atuais, às doações em dízimos. Cerca de 10,6% da população brasileira efetua as contribuições ao valor médio de R$ 16,62 ao mês, segundo a POF.
Em valores absolutos, o Estado que faz mais doações é o de São Paulo, que respondia por cerca de R$ 1,14 bilhão do montante. ''Os evangélicos pentecostais e tradicionais possuem a menor renda e são os que contribuem com maior valor, representando, assim, a maior proporção de doações relativas a renda'', informou Neri. ''Se as doações fossem um imposto, seria regressivo, no qual os mais pobres pagam mais, exatamente a mesma camada que menos contribui para a Previdência e recolhe menos impostos'', comentou.
A média das doações por dízimo dos pentecostais ficou em R$ 34 ao mês, enquanto os católicos doavam cerca de R$ 11/mês. Neri, responsável pela coordenação do estudo da FGV, levantou a hipótese de as doações partirem exatamente de grupos que são menos atingidos pelo Estado em serviços essenciais e que acabam por reorientar o direcionamento de sua renda para as igrejas.