A presidente da República, Dilma Rousseff (PT), rejeitou a ideia de equiparar o reajuste da gasolina aos preços praticados no mercado internacional. Em entrevista nesta sexta-feira (5), em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre, ela afirmou que não é possível querer que o Brasil pegue um preço composto com base nos custos nacionais, e o associe a um mercado internacional. "Isso não quer dizer que não temos que buscar da nossa forma métodos de avaliar e valorizar o combustível, de reajustá-lo ou não", ponderou após visitar a Expointer.
Dilma disse que é acusada de represar o preço da gasolina, mas que, em termos nominais, o combustível teve no seu governo um aumento em torno de 31%. "A gasolina se comportou um pouco acima da taxa de inflação do IPCA (nesse período)", avaliou. A questão, segundo ela, é que os críticos querem que esse reajuste seja atrelado não à inflação, mas ao preço internacional da commodity.
"É verdade que cada país, no caso de combustível, não renuncia a sua própria política de preços para beneficiar os seus consumidores e seus empresários. Se eu atrelo a política de preços da Petrobras ou de qualquer lugar a qualquer fator ou dado internacional eu tenho que me perguntar primeiro como esse mercado funciona", explicou, mencionando que um conflito geopolítico entre Estados Unidos e qualquer País do Oriente Médio, por exemplo, faz o preço do petróleo, no mercado internacional, disparar.
Ela também citou o caso do shale gas nos Estados Unidos. Conforme a presidente, os EUA descobriram uma grande riqueza do chamado gás de xisto e está baseando nisso sua política energética, proibido a exportação desse produto. "Os EUA estão garantindo para sua própria indústria e para sua própria competitividade o ganho de ter shale gas e os outros não", comentou.
A presidente ainda comentou outras críticas que seu governo vem sofrendo no que se refere à política econômica. "Dizem que haverá um tarifaço na energia elétrica. Incorreto. Não é assim que funciona. Outra coisa que dizem, que os preços administrados estão contidos. Outro absurdo. Depende da métrica, depende dos métodos e depende dos interesses."
IPCA
Dilma comentou também o resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 0,25% em agosto com relação ao mês anterior. Segundo ela, o movimento é natural para este período do ano. "Todo mundo espera uma variação pequena para setembro, uma inflação comportada", afirmou em entrevista coletiva na Expointer, na região metropolitana de Porto Alegre.
Perguntada sobre o compromisso do governo em controlar a inflação, a presidente voltou a dizer que sua preocupação é sempre mirar o centro da meta de 4,5% e "caminhar cada vez mais" para colocar a variação de preços no patamar mais baixo possível.
Citando o conto "O Alienista", de Machado de Assis, Dilma disse que é criticada tanto por ter cachorro como por não ter cachorro. "Aqueles que dizem que eu não tenho cachorro falam: 'Está deixando a inflação fugir do centro da meta'. A verdade é que no período de 12 ou 15 anos que temos meta de inflação, em 9 anos sempre tivemos um pouco acima da meta", afirmou, lembrando que o teto é de 6,5%.
Segundo ela, aqueles que a criticam por ter cachorro (em referência à obra literária) defendem que ela deveria reajustar mais os preços da gasolina brasileira, equiparando-os ao preço internacional, e não à taxa da inflação. "A parte de não ter cachorro não dialoga com a de ter cachorro. Tem que resolver, ou tem uma coisa ou outra."
A candidata à reeleição pelo PT reforçou que seu governo procura garantir a inflação sob controle, porque, segundo ela, a inflação é algo que prejudica fundamentalmente os trabalhadores, os empresários e os produtores. "Ganha com a inflação quem controla mais as condições de aplicação, geralmente o sistema financeiro. O resto inteirinho da sociedade perde. Então tem que garantir cada vez mais inflação cada vez mais baixa", avaliou.
Ela salientou, no entanto, que não está disposta a prejudicar o emprego, como "alguns" sugerem. "Meu compromisso é com a meta da inflação, eu procurarei sistematicamente buscar o centro da meta. Mas para isso não vou, porque não acho correto, desempregar o povo brasileiro."