Boa parte das ofertas do UEL Mercado Livre é de pessoas interessadas em fazer algum dinheiro com objetos que não são mais utilizados. No entanto, há um grande grupo formado por quem usa a plataforma profissionalmente, como é o caso do vendedor Fábio Luiz Garcia, de 43 anos. Durante 13 anos, ele anunciou mercadorias e bens em classificados de jornais. Há aproximadamente um ano, migrou completamente para a internet, onde compra e vende. "O trabalho é o mesmo, mas a concorrência é maior e chega a ser desleal. É importante se dedicar, ter persistência e ficar sempre atento a perfis falsos e pessoas mal-intencionadas", afirma.
Para ele, o trabalho on-line demanda mais cuidados com a segurança e uma dedicação maior de tempo. "No domingo eu dou uma parada, mas eu trabalho de segunda a segunda, mais ou menos 12 horas por dia. Eu gasto boa tarde do tempo para escapar de eventuais criminosos, analisar o perfil da pessoa, ver se tem fotos, se tem um histórico de atividades, se tem amigos que também existem, enfim, preciso levantar a vida da pessoa. Amigos meus já perderam produtos porque marcaram com uma pessoa que não existia fora da rede, chegaram ao local marcado e foram roubados", detalha. Garcia sempre opera em locais públicos. Só os clientes mais antigos, que já fizeram pelo menos de duas a quatro compras, têm acesso ao endereço de sua casa.
No meio virtual, segundo ele, o bom vendedor é aquele que está sempre precavido e transmite confiança aos clientes. "Eu trabalho, basicamente, com eletrônicos e produtos de informática. Então se a pessoa compra e depois aparece algum defeito, como eu conheço os meus produtos, eu sei se a reclamação é verdadeira ou não, se é golpe ou não. Aí, caso o defeito exista mesmo, eu faço a troca ou o conserto. Com o passar do tempo, você ganha credibilidade. Na internet, se você pisar na bola uma ou duas vezes já fica queimado e não trabalha mais."
Sem citar valores, Garcia afirma que consegue viver apenas do comércio na internet. "Tem que levar a sério, trabalhar com dedicação, ter persistência e ficar ligado. Não adianta deixar um anúncio lá e depois sumir. Tem que cuidar do anúncio, tem que responder os interessados e ter honestidade. Sem honestidade você não fica no mercado."
De universitário para universitário
Cansado do translado diário entre Arapongas e Londrina para trabalhar e cursar direito na UEL, o bombeiro militar Leandro Rodrigues, de 28, começou a procurar móveis usados para mobiliar seu apartamento. Na busca, ele se incomodou com a ação de intermediários e quis encontrar uma forma de negociar diretamente com pessoas interessadas em vender. Surgiu assim o grupo Universitários UEL, aberto há pouco mais de um ano e atualmente com quase 13 mil membros. O seu funcionamento é semelhante ao do UEL Mercado Livre, mas o foco é outro.
"A proposta é mesmo aproximar universitários, porque muita gente vem para Londrina sem ter móveis, enquanto tem gente que está saindo de república, se formando, e precisa dar fim nas coisas", diz. Outros tipos de produtos são comercializados, como eletrônicos, bebidas e até carros. O cerne, no entanto, é mesmo as mobílias. "Eu tento controlar um pouco, para não deixar perder a essência, tem gente oferecendo celulares, serviços. Eu até deixo, mas não quero que a ideia original se perca", afirma.
Uma ameaça constante aos princípios do espaço são os perfis fakes criados por chineses que querem exportar eletrônicos, sobretudo smartphones. "Chega a ser engraçado. Eles colocam o nome em português e uma ou outra foto, mas quando eu olho o perfil tem um monte de informações desencontradas, coisas em chinês e tudo. Aí eu recuso o pedido de ingresso no grupo", explica Rodrigues.
Outra proposta é incentivar doações entre os membros. "Isso é o que me dá mais satisfação. Às vezes a pessoa tem uma cama ou um armário e não quer vender, não quer ganhar dinheiro. Aí ela pode doar para alguém que queira ou então para uma das instituições que nós ajudamos, que são o Lar das Vovozinhas Gilda Marconi e o Lar Anália Franco", informa. Rodrigues, inclusive, coloca sua caminhonete à disposição de quem precisar de ajuda para transportar móveis e objetos até as entidades.
Os usuários também costumam utilizar o grupo para encontrar um lar para animais abandonados. "Geralmente a pessoa encontra um gato ou um cachorro na rua, leva para casa, dá os primeiros cuidados e depois publica uma foto para tentar achar alguém que possa cuidar do animal", afirma. "Essa é a melhor parte do grupo", admite Rodrigues, que mesmo assim pensa em passar a gerência da página para outra pessoa por falta de tempo.
Fretes on-line
No final de 2012, o vigilante Paulo Sérgio dos Santos, de 42, comprou um caminhão-furgão e passou a oferecer seus serviços na internet. Há mais de um ano como membro de diversos grupos de venda do Facebook, incluindo o UEL Mercado Livre e o Universitários UEL, largou o trabalho de vigilante e hoje vive dos fretes. Segundo ele, a divulgação é 100% pela rede. "Tem grupo que é mais movimentado e outros que são mais parados. Tem ligação sempre, mas às vezes não compensa, é para pegar uma máquina de lavar ou um objeto menor. O que eu pego mais são móveis, aí eu vou, monto e desmonto, faço tudo que precisa", diz. Em média, o serviço fica na casa dos R$ 130,00, dependendo da natureza e do destino da mudança.
Um frete entre regiões diferentes da cidade pode durar nada mais que uma hora ou tomar uma tarde inteira. Para evitar surpresas, Santos sempre se cerca com o maior número possível de informações. "Pergunto tudo, se o cara vai me ajudar, se tem que desmontar, qual é o andar, quantos metros da porta do bloco [no caso dos apartamentos] até a rua, enfim, tudo que pode atrasar ou complicar", explica.
Quando percebe que não conseguirá dar conta do serviço sozinho, ele não titubeia em chamar um ou dois ajudantes. Neste caso, o valor do carreto sobe: geralmente em torno de R$ 70,00 por par adicional de mãos.
Boa parte dos clientes de Santos é formada por universitários que vêm a Londrina ou se mudam dentro da cidade. Às vezes também aparecem fretes para municípios de outras regiões do Paraná e para o interior de São Paulo. Nestes casos, não raro Santos dedica um dia inteiro para o trabalho, entre deslocamento e montagem dos móveis. "Quando chove não aparece muita coisa, mas tem dia que fico até as 23h trabalhando, varia muito. O lado bom é que eu faço meu horário, trabalho quando quero. Tenho essa autonomia, mas é um mercado muito concorrido, tem gente que não vive exclusivamente disso como eu, então não posso abrir mão de nenhuma proposta, mas está compensando", garante.