O governo e a oposição apostam todas as fichas de que o carnê de crediário será a força impulsionadora do crescimento em 2007. Os juros mais camaradas e a comida barata, na avaliação dos dois lados, continuarão animando a venda de eletrodomésticos, automóveis, imóveis e outros bens, mantendo as engrenagens da produção nacional em funcionamento. Tanto um como outro concordam que o consumo dos brasileiros será o centro do crescimento, mas há divergências quanto à força que isso terá para puxar para cima o Produto Interno Bruto (PIB).
Por isso, enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, espera um crescimento de 5%, o economista José Roberto Mendonça de Barros, que tem contribuído nas discussões da equipe do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, acha que 3% é um número mais realista, embora até generoso. No meio-termo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta expansão de 3,6%, segundo informou o diretor de Estudos Macroeconômicos, Paulo Levy.
''Estou desafiando alguém a me dizer algum aspecto que poderia impedir nosso crescimento no ano que vem'', diz Mantega. ''Mas tem de ser uma coisa concreta, não imaginária. Eu não vejo nada.''
Mendonça de Barros, que já foi secretário de Política Econômica no governo Fernando Henrique Cardoso, acha que os 5% de Mantega são apenas um desejo. ''É uma fuga para frente. Como este ano vamos crescer pouco, eles prometem o espetáculo no ano que vem. Nosso crescimento não será nem parecido com 5%, o ministro está fazendo uma afirmação voluntariosa.''
Para Mantega, só os últimos cortes na taxa de juro, como o de 0,5 ponto na semana passada, já vão garantir para 2007 desempenho melhor do que o deste ano. Segundo ele, quando o Banco Central reduz o juro, os efeitos na economia real só aparecem em cerca de seis meses. Por isso, 2007 será beneficiado pelos cortes deste ano.
Crediário - O juro baixo vai impulsionar o consumo de pessoas e empresas pelo crediário. Esse movimento será ajudado pelo fato de as pessoas terem mais dinheiro disponível. ''O rendimento médio cresceu 3,5% no acumulado do ano, temos uma expansão da massa salarial de 6,5%'', diz Levy. Ele lembrou, ainda, que o preço dos alimentos está mais barato. ''Isso libera o poder de compra das pessoas.''
O ministro acredita que, com o aumento do emprego e da massa salarial, o mercado consumidor continuará forte e as empresas se sentirão estimuladas a investir.
Mendonça de Barros vê alguns problemas nesse raciocínio. Ele concorda que o juro baixo pode estimular o consumo via crediário, mas alerta: a ânsia consumista tem sido atendida por produtos importados, principalmente da China. É o que ele chama de ''vazamento'' do mercado interno brasileiro: a ocupação de espaços pelos importados.