Nos últimos dias um burburinho tem tomado conta das zonas urbanas e rurais do Norte do Paraná. As conversas, sempre em tom apreensivo, giram em torno da saúde financeira da Cooperativa Agroindustrial de Rolândia (Corol) e são motivadas pelo atraso do pagamento de fornecedores e de alguns cooperados.
Enquanto isso, a Corol comemora a chegada de R$ 10 milhões, emprestados pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo-Sul (BRDE) por meio do Programa de Capitalização das Cooperativas Agropecuárias (Procap-Agro). Mais R$ 20 milhões do mesmo banco são esperados até o fim do mês.
Em entrevista exclusiva à FOLHA, Eliseu de Paula, que preside a Corol desde 1979 admite que a cooperativa nunca passou por situação semelhante, mas garante que ''a saúde financeira está muito próxima de plena'', ao mesmo tempo em que revela uma medida drástica: a usina de álcool e açúcar que a cooperativa mantém desde 1980 no distrito de São Martinho está à venda.
Percebemos que o dinheiro que vem por empréstimo está sendo muito comemorado...
''A Corol está buscando recursos para a sua capitalização, para aumentar seu capital de giro. O ano de 2009 foi difícil, então estamos buscando dinheiro para poder receber a próxima safra, continuar a trabalhar... Desde o ano passado já pleiteamos os recursos do Procap-Agro. É um dinheiro que vem a juros baixos e com bom prazo de pagamento. É um dinheiro muito bem-vindo e necessário. Além dos R$ 30 milhões do BRDE, também aguardamos, ansiosos, outros R$ 20 milhões do Banco do Brasil, mas que ainda não foram aportados.''
Isso evidencia que a Corol passa por um período difícil?
''Sim. O ano passado foi difícil para toda a agricultura do Paraná. Foi o pior ano para o Estado. Perdemos com a soja, por causa da seca, com o milho safrinha e depois com o trigo, que sofreu com a chuva em excesso e com doenças. Com a safra de uva, a perda foi de 70%, culpa do excesso de chuva. O café produzido foi de qualidade ruim, ''chuvado''. A cana-de-açúcar não deu uma safra boa também por causa do excesso de água. A Corol ficou com 700 mil toneladas de cana-de-açúcar no campo. A laranja, por conta da crise internacional, viu seu preço desabar em 50%. A safra foi boa, mas o preço baixo. As dificuldades pegaram seis culturas de uma só vez. Nunca vi isso.''
A Corol está deixando de pagar seus credores?
''Hoje a Corol já está com liquidez, com recursos do BRDE entrando no caixa. É claro que pedimos um fôlego para um credor, um cooperado, um fornecedor mais importante; pedimos sim para esperarem porque estávamos apertados. Mas já estamos retomando a situação de normalidade. Foi um aperto da agricultura. Se o agricultor não ganhou dinheiro a cooperativa também não.''
Mas as outras coopertivas da região têm divulgado balanços sociais que registram altos lucros. Por que foi diferente com a Corol?
''Eu diria que cada uma está numa região e tem atividades diferentes. Têm cooperativas de frango, que ganharam muito dinheiro. Não há milagre. Se o produtor vai mal, a cooperativa sofre. É bom que as cooperativas estejam apresentando bons resultados, mas a Corol não foi feliz em 2009. O ano foi amargo para ela, com prejuízo por conta dos fatores dos quais já falei.''
De quanto foi o prejuízo total da Corol?
''Ainda precisamos quantificá-lo, mas é muito grande.''
Passa dos R$ 30 milhões que vocês estão recebendo em empréstimo?
''Passa. Mas quero colocar o seguinte: aliado à crise internacional, à falta de capital de giro, a Corol também entrou num cenário de grande preocupação, mas para nós a crise já faz parte do passado. Não temos nenhum salário atrasado.''
Então a cooperativa não está quebrando?
''De jeito nenhum, pode dizer com todas as letras: a Corol é uma empresa de um patrimônio invejável, que está fazendo o seu dever de casa direitinho para honrar todos os seus compromissos.''
E a usina de álcool e açúcar?
''Está sendo vendida. Nós a colocamos à venda. É um ativo importante. Vamos desmobilizá-la. Tudo isso está autorizado pelos cooperados.''
A venda é para ajudar a pagar dívidas?
''Para recompor a situação financeira. O mercado trabalha com um valor que varia entre US$ 100 e 110 por capacidade de moagem de tonelada de cana. Nossa capacidade é de moer 1,650 milhão de tonelada de cana. Isso dá um valor de US$ 181 milhões ou R$ 330 milhões à usina.''
E há interessados?
''Sim, muitos.''