O Cemitério Parque das Alamandas, que deverá entrar em funcionamento até o final do ano na Zona Oeste de Londrina, terá um forno crematório. Um forno americano foi comprado em abril do ano passado para realizar o serviço.
Segundo o advogado José Rodrigo Neves, diretor executivo do empreendimento e porta voz do grupo de empreendedores, o equipamento tem duas câmaras de combustão: a primeira queima o corpo e a segunda elimina os gases provenientes da primeira queima.
''A única coisa que sai pela chaminé é o ar quente. O forno tem uma série de sensores que inibem a queima se houver odor ou cor. O equipamento trava'', garante. Será feito estudo de impacto ambiental quando o forno for instalado.
O equipamento custou cerca de R$ 1,5 milhão e a estimativa é que o retorno seja ainda mais lento que o investimento feito no cemitério porque no Brasil não há cultura de cremação. O empresário diz que nos Estados Unidos a cremação é feita em metade dos corpos, enquanto a média brasileira é de apenas 5%. No entanto, na sua avaliação, a tendência é que as cremações aumentem no Brasil, especialmente na Região Sul.
Os investidores ainda não sabem quanto vai custar a cremação, mas acreditam que deve ficar na média praticada no País. Nos 35 fornos em funcionamento, o custo varia entre R$ 2 mil e R$ 4 mil. ''Há uma série de produtos que você pode agregar em um 'pacote' e o cerimonial, por exemplo, é um detalhe que está em alta'', finaliza.
Cemitério
A construção do Cemitério das Alamandas será feita em etapas. A primeira quadra, com 777 jazigos, será construída aos poucos. ''Vamos fazer esta obra de forma gradativa, de acordo com a necessidade, até porque o custo da obra é muito alto'', afirma Neves. Para dar maior agilidade ao negócio, os investidoes vão elaborar o que definem como um ''plano agressivo de marketing''. O projeto deve ser colocado em prática assim que for definida a data para o início das atividades e consiste na venda de jazigos para as famílias que não possuam lotes em outros cemitérios da cidade.
Os investidores querem deixar bem claro que o cemitério não vai privilegiar nenhuma classe social. ''O nosso empreendimento é de alto nível, mas o cemitério não é um produto exclusivo para a classe A. Nós queremos atender todas as classes, independente de renda. Nós vamos parcelar em até 60 vezes e se a pessoa pode pagar R$ 50 por mês, ela será nossa cliente'', afirma. Os investidores estão se cercando de todos os cuidados também com relação ao meio ambiente, sendo feito inclusive o Relatório de Estudo e Impacto Ambiental (EIA/Rima). ''Posso dizer seguramente que este é o único cemitério do Paraná que tem um estudo detalhado de meio ambiente, considerando até o ar e o aspecto sonoro''.
O projeto ambiental prevê ainda a colocação de seis pontos de monitoramento para acompanhar se há contaminação da água ou do solo, e para que isto não aconteça, a parte interna dos jazigos será revista com concreto. Outros estudos ambientais serão feitos assim que o cemitério entrar em atividade.
Aumenta procura por crematórios no Paraná
A tradição de enterrar o corpo de uma pessoa no cemitério ainda é grande. Mas o mercado de crematórios cresce cada vez mais. No Paraná existem três empresas autorizadas a realizar o serviço, todas localizadas na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). No entanto, o interior não vai ficar de fora.
A curto e médio prazo estão previstas instalações de equipamentos em Campo Mourão, Maringá, Londrina e Cascavel. Apenas na empresa Vaticano, localizada na RMC, cerca de 30 corpos são cremados por mês. Desse total 10% são do Norte do Estado. Entre as três empresas, de 10 a 20 cremações são feitas por mês com corpos vindos de cidades praticamente de todo o interior do Estado.
O gerente do Crematório Perpétuo Socorro, Edimar Mattos, acredita que um crematório no Norte do Paraná iria suprir a necessidade da região. ''No futuro, cada vez menos pessoas vão procurar por cemitérios'', opina.
Para transportar um corpo para outra cidade, com o intuito de ser cremado, o Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços Funerários do Paraná tem o preço tabelado em R$ 1,20 por quilômetro. Por exemplo, uma família de Londrina que contratar o serviço poderá pagar, aproximadamente, R$ 1 mil apenas com o transporte do corpo, já que também é necessário pagar o trajeto de volta, com a urna e as cinzas.
O presidente do sindicato, Gélcio Miguel Schibelben, diz que há um aumento significativo na procura pelo serviço de crematórios em Curitiba e Região Metropolitana. Porém, no interior o serviço ainda é pouco solicitado. ''Em algumas cidades a cultura de enterrar o corpo é muito forte'', opina. Mas o altos preços praticados pelos cemitérios podem mudar os planos de muita gente. ''No Cemitério Municipal de Curitiba não há vagas. Nos particulares um jazigo custa entre R$ 9 mil e R$ 12 mil para dois corpos, fora a taxa de manutenção anual'', explica.
No crematório Jardim da Saudade, também na RMC, já foram cremados corpos de Cascavel, Maringá, Umuarama e Ponta Grossa, além de outros vindos de cidades catarinenses, como Joinville, Florianópolis e Blumenau. Mas o volume de clientes do interior ainda é pequeno. ''Mais de 90% são de Curitiba'', explica um dos diretores da empresa, Andrei Matzenbacher.
Crescimento
A empresa Vaticano foi o primeiro crematório a atuar no Estado e funciona há dez anos. No primeiro mês de atividade foram apenas cinco cremações. Em uma década o crescimento no número de corpos cremados cresceu 600%. A baixa do preço do serviço é um dos principais motivos por esse aumento. Entre os crematórios existentes o trabalho varia de R$ 1.850 a R$ 3,5 mil. No Crematório Perpétuo Socorro, o cliente paga em quantas prestações quiser. ''Em 10 parcelas é sem juros, mas também é possível pagar em 50 vezes'', afirma Edmar Mattos. Esse valor não inclui o serviço da funerária, que providencia o caixão, faz a preparação do corpo e organiza o velório. O trabalho custa entre R$ 2 mil e R$ 5 mil. Nos serviços mais completos a família poderá pagar até R$ 20 mil. Para pessoas carentes o serviço básico é disponibilizado gratuitamente.
Segundo a sócia-proprietária da empresa Vaticano, Mylena Cooper, uma série de motivos tornam a cremação uma boa opção. Os familiares não precisam pagar pela taxa anual de manutenção cobrada pelos cemitérios particulares. ''A cerimônia realizada antes da cremação também atrai mais pessoas. Fazemos um vídeo com imagens da pessoa que morreu e colocamos a música que ela mais gostava. Isso fica na memória como um momento bonito. Bem melhor do que enterrar e ver alguém jogar terra em cima do caixão'', avalia.
Se a morte foi natural, o corpo só poderá ser cremado após a autorização de dois médicos, feita por meio de documento. Esse procedimento é feito no próprio hospital ou no Instituto Médico Legal (IML). No caso de morte violenta, um alvará judicial é necessário. Cremar o corpo significa perder uma possível pista do crime, se o caso ainda não foi resolvido. (Diogo Cavazotti/Equipe Folha).