Se o celular já é considerado o principal objeto sem o qual as pessoas não saem de casa, em algum tempo será possível sair de casa sem o segundo item mais importante: a carteira. O uso do celular como meio de pagamento, muito disseminado entre os japoneses, começa a ganhar força no Brasil. ''Agora nem bolsa eu carrego. Saio só com a chave e o celular'', diz a nutricionista Erika Ibe Rodriguez, 26 anos, que utiliza o celular diariamente para pagar a conta do almoço no Shopping Flamingo, em Alphaville, na Grande São Paulo ''Uso umas duas ou três vezes por dia. É prático e moderno.''
Pioneira nesse tipo de serviço no Brasil, a Oi possui uma base de 200 mil usuários que realizam, em média, duas a três transações mensais por meio do Oi Paggo. O serviço estreou em 2007 e conta com 72 mil estabelecimentos cadastrados no País, de pequenos restaurantes a grandes varejistas como Americanas ou a Gol Linhas Aéreas.
Há duas semanas, a Vivo lançou uma parceria com o Itaucard que permite aos titulares do cartão Vivo Itaucard pagar contas apresentando apenas o número do celular - ao invés do cartão de plástico - em qualquer estabelecimento que aceite cartões. Por estar restrito aos titulares do cartão Vivo Itaucard, cuja anuidade pode variar de R$ 56 a R$ 360, o serviço é mais limitado que o da Oi - por sua vez, restrito a usuários da operadora. Mas é uma demonstração de que a Vivo e o Itaú também não querem ficar fora desse mercado.
Sem vínculo com qualquer operadora ou banco, a empresa de bandeira de crédito Novo e-pay já passou por uma fase piloto, em Alphaville e Aldeia da Serra, na Grande São Paulo, e agora faz planos de crescer. Este mês, estreou na capital paulista e está em negociações para chegar a Mato Grosso do Sul, Rio e até Portugal, em parceria com o grupo Sonae.
O presidente e sócio da Novo e-pay, Erivelto Rodrigues, conta que, em quatro meses de operação, a empresa conquistou 5 mil clientes e credenciou 600 estabelecimentos. ''Temos hoje um volume mensal de R$ 1 milhão de transações pelo celular'', diz Rodrigues, que é conhecido do mercado financeiro por sua empresa de análise de bancos Austin Asis.
Segundo ele, a ideia é atrair desde lojas e restaurantes até camelôs, taxistas e pequenos comerciantes informais que não têm acesso a cartões de crédito. ''Fechamos contrato de exclusividade com a feira de eletrônicos 'Feira da Madrugada', uma feira que acontece no centro de São Paulo das 2 horas às 6 horas da manhã e movimenta R$ 1,5 milhão por dia'', diz. Para atrair os lojistas, a Novo cobra taxa de administração de 1,98%, inferior aos 3% a 5% cobrados pelas empresas de cartão.
Segundo o presidente da Novo, foram investidos R$ 25 milhões no negócio. ''Desenvolvemos uma tecnologia que permite realizar compras mesmo quando não há sinal'', diz. Pelo sistema, o celular funciona com um aplicativo que gera uma senha nova a cada transação.
Na tecnologia usada pela Oi ou pela Vivo, para confirmar a transação, o cliente recebe um torpedo e depois digita uma senha no celular. O diretor de meio de pagamentos da Oi, Roberto Rittes, reconhece a limitação do serviço em regiões onde não há sinal, mas afirma que quando existe rede, é ''raro o sistema falhar ou demorar''.
A Oi não revela o volume de recursos movimentados pelo Paggo. Mas a maior parte das operações, segundo Rittes, se refere a compra de créditos para o próprio celular. Para este ano, a empresa resolveu concentrar a estratégia de crescimento em 12 centros urbanos onde é líder de mercado - São Paulo, onde estreou no final do ano passado, ficou de fora. ''Ao invés de crescer devagar em uma grande área, resolvemos investir para crescer rapidamente em áreas menores.''
Outra empresa de soluções para pagamento via celular é a M-Cash, que começou associada ao HSBC mas hoje atua de forma independente. Dentre os produtos desenvolvidos pela M-Cash está um vale-presente da Livraria Cultura que o presenteado recebe pelo celular.