As incertezas com os rumos da economia brasileira afugentaram os investidores do mercado imobiliário. No terceiro trimestre, apenas 20% dos compradores que adquiriram um bem tinham como objetivo o investimento, segundo a pesquisa Raio-X FipeZap: Perfil da Demanda de Imóveis. No início de 2014, esse porcentual era de 52% e, no mesmo período de 2013, 41%.
"Aparentemente, o mês de novembro foi um pouco melhor de acordo com alguns indicadores antecedentes, mas o pessimismo deve se manter", afirma Eduardo Zylberstajn, pesquisador da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP). Ele avalia que a deterioração do emprego e da renda deve contribuir para tornar 2015 um ano difícil para o mercado imobiliário. Há ainda no radar a elevação da taxa básica de juros, a Selic, que deve encarecer o custo dos financiamentos habitacionais.
Zylberstajn lembra que esse comportamento mais conservador do investidor também está relacionado com as expectativas em relação aos preços. "Caiu um pouco a ficha de todo mundo e pouca gente espera ter ganho acima da inflação nós próximos anos". Segundo a pesquisa, só 16% dos entrevistados esperam um aumento de preço dos imóveis acima da inflação para os próximos dez anos.
Os investidores do mercado imobiliário são geralmente tidos como os especuladores que contribuíram para a alavancada dos preços nos últimos anos, mas Zylberstajn lembra que é importante contextualizar essa afirmação. "É preciso separar aquele que coloca para locação e o para revenda, mas os dois investidores são importantes. Para locação, é o investidor que vai alimentar esse mercado, onde existe muita gente que não tem condições de adquirir um imóvel", ressalta.
Tendência
A pesquisa ouviu 1.943 usuários do site de classificados de imóvel Zap. Além desse levantamento sobre o comportamento dos compradores, a Fipe e o site de classificados Zap divulgam mensalmente um indicador com o preço anunciado dos imóveis prontos em 20 cidades. De janeiro a novembro, o valor do metro quadrado acumula alta de 6,35% no ano, abaixo da inflação pelo IPCA no período (6,56%). E, daqui para frente, a tendência é de maior acomodação.
Há indicações para isso. O preço de locação em São Paulo, o maior mercado imobiliário do País, subiu 2,15% nos primeiros noves meses do ano, segundo o FipeZap. "Nós olhamos para o mercado de locação porque ele é mais ágil, se ajusta mais rápido, então é sinal de que no mercado de venda pode haver uma pressão de baixa em 2015", diz.