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Brasil assiste a crescimento de mercado de luxo

02 fev 2012 às 09:39

Uma década atrás, parte da elite brasileira estava tensa e insegura em relação ao futuro com a chegada do ex-operário Luiz Inácio Lula da Silva ao poder. Mas no fim das contas, os ricos ficaram mais ricos.

"Quando (o ex-presidente) Lula chegou ao poder, toda a classe alta brasileira ficou muito preocupada. Nós achávamos que ia ser terrível", diz a arquiteta Brunete Fraccaroli, uma das cinco milionárias do reality show Mulheres Ricas, da TV Bandeirantes, que mostra todas as semanas como é a vida dos super ricos, num dos países mais desiguais do mundo.


"Mas o presidente Lula fez um ótimo governo. Os ricos continuaram ricos e os pobres também têm um pouco mais de dinheiro", completa a milionária, que já nasceu rica e adicionou alguns milhões à fortuna da família com seu trabalho como arquiteta e designer de interiores.


Junto com o bom momento econômico também se desenvolve no Brasil o setor de produtos e serviços para atender às necessidades e aos desejos da alta classe.


Uma das faces mais visíveis desse setor está nos céus de São Paulo: a cidade já tem mais de 400 helicópteros privados registrados para atender aos endinheirados que queiram fugir do risco de assaltos e da certeza de congestionamentos.


"Nosso negócio vem crescendo a uma média de 10% a 15% ao ano", diz o dono da empresa de táxi aéreo Helimarte, Jorge Bitar.



O empresário explica que novos clientes estão chegando ao setor enquanto os antigos estão voando cada vez mais.


"Estamos até perdendo clientes que começam a voar muito decidem comprar o próprio helicóptero. E pior que alguns ainda acabam levando nossos pilotos, que são profissionais em falta no mercado."


Vista aérea


Uma hora de vôo em São Paulo num helicóptero para três pessoas (além o piloto) custa cerca de R$ 1600, cerca de duas vezes e meia o salário mínimo no Brasil.


É um dos indícios - assim como vista aérea as enormes favelas vizinhas de condomínios de luxo no bairro paulistano do Morumbi - da desigualdade social que ainda é uma das marcas do país, mesmo com a recente melhora nas condições de vida das populações mais pobres.


Nos últimos dez anos, a renda dos 10% mais ricos do Brasil cresceu 20% e 60% num período de 20 anos. Os 10% mais pobres avançaram mais 100% na última década e 160% em vinte anos.


O economista da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Naércio Menezes diz que os números deixam claro que houve uma redução de desigualdade de renda no país que conseguiu ser ao mesmo tempo recorde e insuficiente.



"O problema é que o Brasil saiu de uma situação tão ruim, de desigualdade tão grande, que mesmo as mudanças significativas dos últimos anos mal tocam a superfície do problema", explica Menezes.


"O Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo e a mobilidade social é quase inexistente. Para quem nasce pobre é praticamente impossível ficar rico."


Crescimento insuficiente


Um estudo recente da ONG britânica Oxfam revelou que o Brasil segundo país mais socialmente desigual do G20 (grupo das 20 maiores economia do mundo), à frente apenas da África do Sul.


"Devemos elogiar a evolução significativa do Brasil no combate à desigualdade nos últimos dez anos, mas é também importante deixar claro que o país ainda está muito longe da situação ideal", diz o diretor do escritório da Oxfam no Brasil, Simon Ticehurst.


O especialista observa que apenas crescimento econômico não é suficiente para reduzir a pobreza e a desigualdade.


"São essenciais medidas específicas de distribuição da renda. Na África do Sul, por exemplo, a economia está crescendo mas a pobreza está aumentando."


Naércio Menzes diz que a melhora no padrão de vida dos mais pobres também tem um impacto direto e positivo sobre a vida dos ricos.

"Quando os níveis de educação e renda dos pobres melhoram, o benefício se reverte para toda a sociedade através, por exemplo, de aumento na produtividade, queda na criminalidade e desenvolvimento de consciência política e ecológica."


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