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Bolsa de valores sobe quando popularidade de Dilma Rousseff cai

28 mar 2014 às 14:36

A Bovespa e os outros ativos brasileiros poderão registrar uma nova rodada de valorização se as próximas pesquisas de intenção de voto mostrarem perda de terreno da presidente Dilma Rousseff e um desfecho das eleições presidenciais apenas no segundo turno.

E o rally das ações e da moeda brasileira poderá ser ainda maior se crescerem as chances de Dilma perder as eleições para um candidato de oposição, em particular o tucano Aécio Neves, ou ainda, embora numa magnitude bem mais modesta, se uma reviravolta no cenário político trouxer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de volta para disputar a Presidência em substituição à Dilma.


Esse é, em resumo, o sentimento de três investidores estrangeiros ouvidos nesta sexta-feira, 28, pela Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado. Um deles fala abertamente e os outros dois pedem nonimato pela delicadeza do tema.


A ameaça à candidatura de Dilma Rousseff tomou força ontem, quando foi divulgado que a avaliação positiva do governo caiu de 43% para 36% em relação a dezembro, segundo pesquisa CNI/Ibope. O porcentual de entrevistados que consideram o governo regular oscilou de 35% para 36%, enquanto os que o avaliam como ruim ou péssimo subiu de 20% para 27%.


Essa pesquisa acendeu a luz amarela em relação ao apoio popular da presidente, em meio a uma economia em desaceleração, a uma inflação em alta e a escândalos, como a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobrás.


É preciso ressaltar, contudo, que na última pesquisa de intenção de voto, a presidente ainda conta com larga vantagem. No levantamento do Ibope, divulgado no dia 20 deste mês, a presidente Dilma Rousseff venceria a eleição no primeiro turno caso a votação fosse hoje, na pesquisa estimulada.


No cenário em que a presidente enfrenta Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e candidatos de partidos nanicos, Dilma aparece com 43% das intenções de voto. O senador do PSDB é o segundo colocado com 15% e o governador de Pernambuco tem 7%.


O porcentual de Dilma é o mesmo daquele apresentado na última pesquisa Ibope, em 18 de novembro. Em relação à mesma pesquisa, Aécio subiu um ponto porcentual (dentro da margem de erro) e Campos manteve os mesmos 7%.


Perspectiva de mudança. Na opinião de Greg Lesko, diretor-gerente da Deltec Asset Management em Nova York, que têm US$ 800 milhões em ativos, dos quais quase US$ 200 milhões investidos nas bolsas da América Latina, os investidores estrangeiros se sentiriam mais confiantes em voltar a comprar Brasil se houvesse a perspectiva de mudança de rumos da política econômica no próximo governo.


"Sobre a volta do Lula, o ex-presidente apenas manteve no lugar os pilares econômicos estabelecidos no governo Fernando Henrique Cardoso", disse Lesko a esta coluna. "Aconteceria um rally nos preços dos ativos apenas se Lula promovesse uma reviravolta no mix atual de política econômica."


Lesko, contudo, não acredita que Lula e o Partido dos Trabalhadores que ele representa fariam isso. "O que o Lula fez no seu governo não eram as políticas do PT", disse. "Outros quatro anos de políticas do PT, quer seja Lula ou Dilma, não seriam bom para o Brasil."


Para Lesko, uma vitória de Aécio Neves seria o que mais agradaria ao mercado pela perspectiva do retorno de políticas "investment friendly", ou pró-investimento. "A Bovespa já teve uma boa alta, então há um potencial para correção, mas se futuras pesquisas de opinião mostrarem uma eleição bem mais competitiva do que os últimos números de intenção de voto indicaram até agora, então há espaço para a Bovespa manter a valorização já acumulada ou subir até mais", disse Lesko.


Na opinião de um estrategista-chefe de um hedge fund baseado em Londres, o qual investe 80% do seu patrimônio em ações e dívida de países emergentes, se as próximas pesquisas mostrarem uma probabilidade cada vez maior de Dilma Rousseff perder as eleições em favor de um candidato da oposição, em especial Aécio Neves, ou mesmo se ela for substituída por Lula, a Bovespa poderia se valorizar mais 20% sobre o nível atual.


Apenas no mês de março, a Bovespa já acumula ganho de 6,1%, sendo negociada a 49.976,69 pontos por volta das 12h20.


"O Brasil tem um grande problema neste momento que é um mix de política econômica, a qual é percebida pelos investidores brasileiros e estrangeiros como sendo errada", afirmou a fonte, que pediu para não ser identificado. "Há grande preocupação com a postura fiscal do governo brasileiro, com a demanda doméstica e com a falta de investimentos - e o sentimento dos investidores é que a reeleição de Dilma não resolveria tais preocupações, ao menos nos primeiros seis ou doze meses do próximo mandato", explicou.


Volta de Lula. Para ele, o mercado ficaria satisfeito com um cenário em que tivesse de escolher entre a volta de Lula ou a vitória de um candidato de oposição que representasse uma mudança dos rumos da política econômica.


"Mas certamente a volta de Lula como candidato do PT no lugar de Dilma seria um 'driver' (catalisador) poderoso para os preços dos ativos brasileiros", afirmou o gestor de hedge fund inglês. Além da alta da Bovespa, ele considera que a entrada de capital estrangeiro poderia derrubar a cotação do dólar até R$ 2,15.


Já um gestor de um hedge fund nos Estados Unidos, com uma aplicação significativa na bolsa brasileira, comentou que há uma grande frustração entre os investidores estrangeiros com a falta de investimentos no Brasil.


"A reeleição de Dilma Rousseff não reverteria o sentimento negativo hoje prevalecente entre os investidores", disse. Além disso, um segundo mandato de Dilma representaria, aos olhos do gestor ouvido acima, a continuidade do controle de preços da energia elétrica e dos combustíveis, além do intervencionismo em vários segmentos da economia. O reflexo disso, segundo ele, está na resistência das expectativas inflacionárias em ceder.

"Obviamente, uma queda dela nas pesquisas de intenção de voto poderá animar os investidores", afirmou. Para ele, a volta de Lula não resolveria as incertezas dos investidores. "Ninguém quer mais o PT e sua política de controle de preços administrados", afirmou. Para ele, uma crescente possibilidade de vitória de Aécio Neves poderia dar mais confiança aos investidores estrangeiros de que, ao menos quanto à estabilidade macroeconômica, o Brasil poderia "arrumar a casa" e abrir espaço para a volta dos investimentos.


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