No início, o consumidor via com preocupação a conta do restaurante, em seguida, ficou de olho nos preços no supermercado - a cebola tem sido um destaque desde o começo do ano -, até que tomou um susto com os reajustes na conta de luz. Agora, os aumentos que vêm se acumulando desde o início do ano estão se materializando nos orçamentos domésticos e, por isso, os consumidores seguem apostando em alta da inflação.
"Agora, além de estar sentindo os aumentos no dia a dia, o consumidor está sentindo que o orçamento não está dando conta", afirma o economista Pedro Costa Ferreira, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), para explicar porque as expectativas de inflação seguem subindo entre os consumidores.
Mais cedo, a FGV informou que a mediana da inflação esperada pelos consumidores nos próximos 12 meses ficou em 9,7% em julho, conforme o Indicador de Expectativas Inflacionárias dos Consumidores. Foi a quinta alta seguida, renovando recordes de máxima da série histórica, iniciada em setembro de 2005. Do início do ano para cá, já foram 2,5 pontos porcentuais de aumento.
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Para Ferreira, a tendência é que as expectativas continuem subindo. O pesquisador destacou que, para formar suas expectativas, o consumidor costuma levar mais em conta o momento atual; por isso, a inflação passada tende a realimentar as expectativas. Além disso, as expectativas do consumidor tendem sempre a serem mais pessimistas do que as do mercado.
Ferreira destacou ainda o caráter disseminado da inflação. Segundo o Indicador de Expectativas Inflacionárias dos Consumidores, apenas 1% dos brasileiros acredita que a inflação ficará no centro da meta (4,5%) nos próximos 12 meses.
A disseminação explica-se, de acordo com Ferreira, porque há elevações de preços que atingem todas as faixas de renda e hábitos de consumo. A alta na alíquota da Cide, que tributa combustíveis, afeta quem tem carro. Os salões de beleza viram a margem cair com a alta na conta de luz, enquanto seus clientes passaram a pagar mais pelos serviços. Já os mais pobres sentem mais os reajustes dos alimentos.