Os países da América Latina, dentre eles o Brasil, com seus recursos naturais e abundância de sol, terão um papel fundamental no desafio de aumentar a produção mundial de alimentos, de acordo com avaliação de participantes do Fórum Econômico Mundial. O Banco Mundial acredita que será preciso elevar em 80% a atual produção mundial de alimentos para abastecer a população mundial em 2050. Representantes de entidades e empresas ligadas à agricultura discutiram, em um dos painéis do Fórum, como atender à demanda e transformar a produção de alimentos num motor para o crescimento, com participação do setor privado.
Segundo a vice-presidente de América Latina e Caribe do Banco Mundial, Pamela Cox, moderadora do painel, os desafios estão em conseguir ajustar oferta e demanda de alimentos de forma ambientalmente sustentável. Mas, para isso, segundo ela, será necessário resolver questões como barreiras ao comércio mundial e gargalos de infraestrutura. "A América Latina pode ser parte desta solução (da escassez de alimentos)", afirmou Cox.
Para Pedro Parente, presidente da Bunge Brasil, não é possível resolver o problema sem enfrentar os gargalos de infraestrutura. Ele lembra que os custos da Bunge com logística para transporte de soja são quatro vezes superiores no Brasil (US$ 84 por tonelada) do que nos Estados Unidos(US$ 21 por tonelada). "Poderíamos, por exemplo, aumentar em 50% a produção no Mato Grosso sem cortar uma árvore sequer se tivéssemos uma infraestrutura melhor", acrescenta. "Podemos transformar a agricultura num motor de crescimento, se resolvemos os problemas de infraestrutura".
O ex-ministro da Agricultura e coordenador do centro de Agrobusiness da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Roberto Rodrigues acredita que, com o avanço de tecnologias, com novas variedades de sementes adaptadas ao clima e com a nanotecnologia, não será tão relevante no futuro o impacto da evolução da agricultura no meio ambiente. Rodrigues lembra que países da América Latina, da África subsaariana e da Ásia apresentam o maior crescimento populacional, e também aumento de renda e, consequentemente, também a maior demanda potencial por alimentos. Segundo ele, também estão entre estes países, as melhores oportunidades para aumento de produção, devido à abundância de sol e terras.
O presidente de Bebidas da América Latina da PepsiCo, Luis Montoya, lembrou que há muito mais volatilidade nos preços do setor alimentício hoje do que no passado, com impacto forte da variação cambial e até a influência de especuladores, como hedge funds. "O aumento de preços afeta produtores e todos os participantes deste mercado", disse. "Sem todas essas oscilações, poderia haver mais investimentos em tecnologia".
O presidente de comércio global e investimento da Greenberg, James Bacchus, defendeu a conclusão da Rodada de Doha, sobre liberalização do comércio mundial, como uma forma de promover o barateamento dos alimentos. "O Brasil junto com outros países concentram a produção de alimentos e são afetados por barreiras (comerciais)", disse. "A Rodada de Doha tem que continuar".