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'Efeito JBS'

Agricultor pode ficar mais dependente de comercializadoras

Agência Estado
17 jul 2017 às 09:09

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- Jonas Oliveira/ANPR
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Apesar da perspectiva de reduzir o custo do frete dos grãos do cerrado pela metade, a Ferrogrão poderia criar um novo e grande problema para os produtores: uma espécie de "efeito JBS". Do mesmo modo que os pecuaristas da região ficaram nas mãos de um único frigorífico, com a criação do "campeão nacional", os agricultores acabariam ainda mais dependentes das tradings, que controlariam o novo modal de transporte.

"Uma ferrovia controlada por quem detém um monopólio de carga preocupa", diz Luciene Machado, superintendente da área de saneamento e transportes do BNDES. "Mas, apesar de haver uma discussão importante sobre um operador ferroviário independente, num investimento desse porte, no qual é mandatório o uso de recursos privados, faz sentido que as tradings estejam inseridas (como controladoras)."

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Para a executiva, porém, é preciso equilibrar os interesses e resolver possíveis conflitos para não condenar os produtores a ficar eternamente sem alternativa de transporte mais eficiente do que o rodoviário. "Eliminar a ferrovia seria um jogo de perde-perde", diz ela. Tarcísio Freitas, secretário de Coordenação de Projetos da Secretaria do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), concorda e afirma que a Ferrogrão interessa principalmente às tradings. Ele reconhece, no entanto, que os produtores também serão beneficiados. "Esse projeto é importante porque ajudaria a reduzir o gargalo logístico, uma questão crônica no Brasil."

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Além disso, o setor de transporte tem uma agência reguladora própria, a ANTT, que pode intervir caso um grupo econômico seja excessivamente favorecido. "Diferentemente do setor de carnes, o de transportes tem uma agência reguladora, com mecanismos para promover o equilíbrio do poder econômico", afirma Alexandre Porto, superintendente de infraestrutura e transporte ferroviário da ANTT. "Haverá teto tarifário, acompanhamento dos procedimentos e, se necessário, aplicação de penalidades, inclusive de caducidade da concessão."

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Poder do mercado


Claudio Frischtak, sócio da consultoria Inter.B, especializada em infraestrutura, afirma que o governo e as agências reguladoras estão mais atentos a questões concorrenciais do que antes. "Os produtores de grãos não nasceram ontem e nem têm um poder político irrelevante", diz.

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Além disso, de acordo com Frischtak, mesmo com a possível diferença no preço do frete, o modal rodoviário continuará competitivo. "Eu apostaria mais na capacidade do mercado reagir do que na efetividade das ações públicas", diz ele. "Com a regulamentação das ferrovias nos anos 1980, nos EUA, por exemplo, houve um impacto enorme em termos de eficiência e na queda de preços dos fretes." Em outras palavras, quando a Ferrogrão começar a operar, os caminhoneiros se ajustarão às condições de mercado.


Para José Vicente Ferraz, da consultoria Informa Economics IEG|FNP, hoje a única alternativa para escoar pelo Norte é rodovia. "Não vejo problema de o produtor se financiar com as tradings, uma vez que o crédito no País é escasso. Até esses projetos saírem do papel, a produção agrícola será muito maior do que a atual. A competição é saudável."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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