A mudança exige tempo, dedicação, resiliência. Quanto mais importante ela é, maior deve ser a
dedicação. Quem está disposto a sair do lugar comum, portanto, precisa estar preparado para
lutar até o fim. Pode parecer trecho de livro motivacional estas palavras, mas é incrível como
elas guardam uma grande verdade se pensarmos em termos de inovação e empreendedorismo.
Inovar comprando máquinas para aumentar o lucro é banal, fácil até, mas vai tentar inovar no
setor público. Ou ainda mais difícil, tente inovar culturalmente, fazendo as pessoas mudarem
sua forma de agir pelo bem comum, pelos outros. Isso é tarefa para quem põe em prática aquilo
que escrevi logo no começo.
Tive a alegria de participar do lançamento da Procuradoria da Mulher na Câmara de Vereadores
de Mandaguari. Um fato histórico para uma cidade de quase 40 mil habitantes que, assim como
qualquer outra em nosso país, carece de maior atenção às inúmeras formas de violência vividas
pelas mulheres cotidianamente. Mais que resolver problemas, a Procuradoria vai acolher as
pessoas que se sentirem vítimas de violência. É o lado humano prevalecendo sobre os aspectos
jurídicos.
Como se trata de uma instância dentro de um órgão legislativo, cuja atribuição é criar leis e
demais formas de proteção às pessoas, pode parecer um certo contrassenso eu defender o lado
humano acima das questões legais. Não é porque a violência provém de humanos, na grande
maioria das vezes homens, que fazem o mal pelas mais variadas razões, mas sempre a partir de
uma vontade. Isto é, se quisermos diminuir os casos de violência contra a mulher, será preciso
mudar a forma de pensar e agir das pessoas. Claro que leis rígidas são fundamentais para coibir
os atos nefastos contra o público feminino, mas a norma não trabalha na origem do problema: o
pensar.
Que viagem!, diria meu leitor mais cartesiano. Não é bem assim, digo eu. Por mais filosófica
que possa parecer essa minha reflexão ela chega onde comecei: se quisermos a mudança, se
prepare para a luta!
A nova procuradora da mulher, a vereadora Claudete Velasco, tem pela frente a difícil missão
de criar uma cultura não só das vítimas procurarem a Casa de Leis para denunciar a violência,
como também de legitimar as ações do legislativo municipal face aos outros órgãos de proteção,
como Delegacia da Mulher, Polícia Militar, Centro de Referência da Assistência Social (Cras),
os quais vão buscar dar andamento às denúncias recebidas na Câmara. Também será preciso
lidar com problemas comuns em um país como o nosso: falta de infraestrutura, reduzidos
recursos públicos, estímulos contrários, como o longo caminho que os processos tomam na
justiça, dentre outras situações adversas.
A tarefa mais difícil, porém, é a de longo prazo, que não se revolve com uma pessoa, nem um
único órgão, tampouco em determinada cidade: mudar a forma de agir e pensar das pessoas.
A Procuradoria inova ao trazer um serviço para ajudar mulheres vítimas de violência onde não
existe atualmente. Inova ao mudar um contexto de poucos recursos. O caminho da mudança,
porém, está apenas começando ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de
“Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.