Economia

Juros vão continuar altos, avisa BC

20 jul 2003 às 20:58

Com os juros reais em níveis estratosféricos, o Banco Central (BC) tem um forte incentivo para reduzir agressivamente a taxa Selic quarta-feira, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Atualmente, a taxa real está em 17,58%, ante 26% ao ano da Selic e 7,16% da inflação projetada para os próximos 12 meses. Mesmo se houver uma redução de 2 pontos porcentuais, a taxa real ficará em 15,71%, bem acima do nível de 9% apontado pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, como o juro real de equilíbrio no Brasil nos últimos anos.


A taxa de equilíbrio de longo prazo é aquela que, em teoria, não provoca inflação nem deflação. O estudo do BC mostra que nos EUA, esse juro é de 2,75%; na Espanha, de 2,88%; e na Tailândia, de 4,53%. Os EUA, com juros básicos de 1% ao ano, têm hoje taxa reais negativas.


De novembro para cá, quando atingiu 10,28%, o juro real subiu ininterruptamente devido à alta da Selic e ao recuo das expectativas de inflação para os próximos 12 meses. Com o aperto monetário e a queda do dólar, os analistas revisaram para baixo suas previsões para os índices de preços, como lembra o ex-presidente do BC, Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada.


A estimativa para o IPCA em 12 meses caiu de 13,44% em janeiro para os atuais 7,16%. Mesmo com a Selic em 26,5% de fevereiro a maio e com a queda para 26% em junho, a taxa real seguiu em alta. A maior parte dos analistas considera mais importante calcular esse juro considerando a inflação esperada, pois decisões de consumo e investimento são tomadas com base nas taxas reais projetadas para o futuro.


As taxas elevadas têm sido eficientes para derrubar os índices de preços, mas também têm castigado a atividade econômica. Em maio, as vendas no varejo caíram 6,1% ante igual período de 2002.


Nesse cenário, Loyola vê espaço o BC ser mais agressivo. ''O Copom pode cortar a Selic em 2 pontos porcentuais.'' Uma redução de 1,5 ponto também seria positiva, diz. Mas ele adverte que se o BC for muito conservador - reduzindo os juros em apenas um ponto -, a retomada da atividade econômica, prevista para o quarto trimestre, pode ser adiada.


O economista-chefe da LCA Consultores, Luís Suzigan, ressalta que juros reais nos atuais níveis inibem o investimento produtivo, encarecem o crédito e desestimulam o consumo. Ele diz que, se o BC não for mais ousado, a desaceleração da economia pode se aprofundar. Suzigan aposta num corte de 2 pontos da Selic.


Outra maneira de calcular o juro real é comparar a taxa de juros prefixada de um ano com as expectativas de inflação. Para o analista Antonio Madeira, da MCM Consultores Associados, esse método tem como vantagem o fato de que são as taxas de longo prazo que influenciam diretamente o custo do crédito. Como há uma expectativa de queda da Selic, a taxa prefixada de um ano, que chegou a 30% no início do ano, está hoje em 20,4%.

Também é possível estimar os juros reais com base na taxa Selic acumulada em 12 meses, descontando a inflação no período. Nesse critério, o juro real brasileiro está em 5,1%, o sétimo maior do mundo, de acordo com a consultoria Global Invest.


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