Uma notícia publicada pelo jornal argentino La Nacion anunciando a existência de um acordo entre os governos brasileiro e paraguaio para vender a usina de Itaipu tem provocado agitação nos setores contrários à privatização do setor elétrico nacional. A informação se multiplicou pela Internet e ganhou repercussão a ponto de fazer com que Itaipu cogitasse preparar um desmentido oficial.
Segundo o jornal, a venda estaria sendo negociada para que os dois governos pudessem se livrar da dívida de US$ 16 bilhões, acumulada por Itaipu por conta da construção da hidrelétrica. O governo federal e a binacional negam qualquer estudo sobre privatização e asseguram ser "absurda" e "descabida" a matéria.
A assessoria de Itaipu disse que o tamanho da dívida é, inclusive, um fator que impediria a venda, pelos menos até 2023, quando o contrato da usina será revisto pelos dois países. Antes disso, seria muito difícil fazer mudanças societárias. O Ministério de Minas e Energia também afirmou que não procede a existência de acordo de venda com Paraguai. Causou surpresa no Ministério o fato de um jornal do porte do La Nacion, considerado o maior em circulação e importância na Argentina, ter feito a publicação.
Mesmo com os desmentidos, muitos especialistas em energia estão convictos de que o governo levará adiante a desestatização da maior hidrelétrica do mundo. O professor e físico Bautista Vidal, crítico do processo de privatização no País, protestou. "Sei que o presidente da República já assinou um acordo nos Estados Unidos para a internacionalização de Itaipu. Isso ocorreu em Washington, na última viagem dele", disse. Em Curitiba, membros do Fórum contra a venda da Copel receberam a mensagem, mas a maioria a desconsiderou por considerá-la absurda.
Itaipu é uma gigante no cenário energético mundial. Ela gera 25% de toda a energia consumida no Brasil. Seu orçamento anual é de US$ 2,2 bilhões.
O correspondente do La Nacion, César Sánchez Bonifato, autor da matéria, disse que se baseou nas informações na coluna do jornalista brasileiro Sebastião Nery, publicada pelo jornal carioca Tribunal da Imprensa, no final de março. "O fato é que ninguém desmentiu a notícia", defendeu-se Bonifato. O jornal carioca Tribuna da Imprensa negou ter dado a notícia. "Só pode ter sido um equívoco atribuir a nós a informação", disse um dos jornalistas responsáveis pela redação da Tribuna.
No Paraguai a notícia também foi publicada. O jornalista paraguaio Alberto Vargas Peña disse que consultou pessoas de Itaipu e do governo que informaram não haver interesse em vender a usina. "O governo negou a venda, mas o ex-ministro de Obras Públicas, José Planas, teria dito que chegou a estudar a venda de Itaipu", afirmou Peña.
Como a notícia no La Nacion foi publicada no dia 1º de abril, considerado o Dia da Mentira, a assessoria de Itaipu concluiu: "só pode ter sido uma brincadeira".