Sempre que posso destaco o trabalho de pessoas que são referência em sua área de atuação e mostram que é possível fazer diferente. Uma dessas pessoas é o professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Admilton Gonçalves Júnior. Ele faz aquilo que eu gostaria muito de por em prática, mas ainda não consegui: abrir uma startup com meus alunos para pesquisarmos e desenvolvermos soluções para o mercado a partir do nosso trabalho dentro da universidade.
O porquê ainda não atingi esse objetivo é um assunto longo, que demandaria pelo menos umas quatro colunas. Como sei que meu leitor quer uma leitura mais rápida, limito-me a dizer que o professor Admílton é fora da curva. A ponto de o exemplo dele ser citado em todo o Paraná e o Brasil até pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Aldo Bona.
Mas o que o Admilton faz que merece ser exemplo para o Paraná e o Brasil? Ele criou a startup Bio3, incubada na Agência de Inovação Tecnológica (Aintec) da UEL. A empresa nascente seleciona microrganismos com potencial na agricultura por meio, por exemplo, de um inoculante ou um biodefensivo. “Nossa tecnologia se transformou em um produto que está sendo comercializado em todo o Brasil, pagando royaltys para a universidade porque desenvolveu a inovação dentro da instituição, gerando empregos, renda, e ainda evitando a contaminação do produtor por agroquímicos e beneficiando a natureza como um todo”.
Leia mais:
Uber defende no STF que não há vínculo de emprego com motoristas
Da tradição do café ao cinema: os ciclos da economia de Londrina
Concessão de rodovias no Paraná recebe quatro propostas; leilão nesta quinta
Confira o funcionamento do comércio de rua e shoppings durante o aniversário de Londrina
Esse método se tornou realidade a partir de mudanças em nível de estado e da universidade por meio de um arcabouço jurídico criado a partir do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação do Paraná e da Política de Inovação da UEL. No entanto, nunca acreditei que leis sejam o fator preponderante para o fomento da inovação. Elas são apenas as bases sob as quais caminham empresas, pessoas e instituições, as quais realmente fazem inovação. Iniciativas como do professor Admílton e seus alunos, agora sócios, ainda são escassas, embora haja uma base legal, porque o fomento às startups, como a Bio3, vai muito além de normas.
Precisamos criar um ambiente favorável à criação de propostas inovadoras. Para isso, porém, é preciso trabalhar em muitas frentes. Desde repor a força de trabalho das universidades, por meio de concurso público, passando por um incentivo ao docente para que ele se dedique à pesquisa e inovação, não somente realizando o trabalho em sala de aula, até o Estado tornar a ciência prioridade absoluta.
Inovação por meio de software que intermedia compras, transações financeiras, o que faz a grande maioria das startups no Brasil, não vai gerar inovações de longo prazo que devolvam para a sociedade o investimento público feito para criar uma tecnologia.
Aliás, essa é uma das principais críticas que eu faço ao uso de dinheiro público em inovação, mas esse assunto merece uma nova coluna ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD em Comunicação e Inovação (USP).
Jornalista Câmara de Mandaguari, Professor UEL, parecerista internacional e mentor de startups.
@professorlucasaraujo (Instagram) @professorlucas1 (Twitter)