Não costumo dividir as minhas colunas para tratar de determinado assunto, mas desta vez não
teve jeito. Semana passada terminei meu texto com uma pergunta. Agora, preciso respondê-la.
A startup Bio3, incubada na Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Estadual de
Londrina (UEL), está apostando em parcerias para desenvolver tecnologia sem recursos de
fundos privados ou de subvenção econômica do Estado. “Nós já temos o insumo mais caro, que
é o conhecimento”, me falou o professor da UEL Admílton Gonçalves. Segundo ele, duas
startups da universidade, uma já incubada há mais tempo, Gral Bioativos, que trabalha com
nanotecnologia, e outra recém-chegada, Gaia Agrosolution, que também atua com
biotecnologia, estão ajudando a Bio3 em todo o processo de desenvolvimento da inovação,
sobretudo em testes de validação a campo, etapa indispensável e de custo elevado.
“Caso nossa tecnologia dê certo, a Bio3 vai pagar royaltys para a universidade porque
desenvolveu a inovação usando dentro da instituição, transferir a tecnologia para a Gaia, ou
outra empresa, que vai receber recursos por meio de um contrato por ter contribuído no processo
todo”. Esta é a explicação do professor não só para o modelo de negócio da Bio3, como também
para atingir o objetivo mais difícil: devolver à universidade e aos parceiros os investimentos em
uma nova tecnologia.
Esse método se tornou realidade a partir de mudanças recentes em nível de estado e da
universidade por meio de um arcabouço jurídico criado a partir do Marco Legal da Ciência,
Tecnologia e Inovação do Paraná e da Política de Inovação da UEL. No entanto, nunca acreditei
que leis sejam o fator preponderante para o fomento da inovação. Elas são apenas as bases sob
as quais caminham empresas, pessoas e instituições, as quais realmente fazem inovação.
Iniciativas como do professor Admílton e seus alunos, agora sócios, ainda são escassas, embora
haja uma base legal, porque o fomento às startups, como a Bio3, vai muito além de normas.
Precisamos criar um ambiente favorável à criação de propostas inovadoras. Para isso, porém, é
preciso trabalhar em muitas frentes. Desde repor a força de trabalho das universidades, por meio
de concurso público, passando por um incentivo ao docente para que ele se dedique à pesquisa e
inovação, não somente realizando o trabalho em sala de aula, até o Estado tornar a ciência
prioridade absoluta. Isso significa dedicar um percentual substancial do orçamento público para
pesquisa científica, o que é feito neste país basicamente por universidades ou institutos de
pesquisa, como o IDR-Paraná.
Inovação por meio de software que intermedia compras, transações financeiras, o que faz a
grande maioria das startups no Brasil, não vai gerar inovações de longo prazo que devolvam
para a sociedade o investimento público feito para criar uma tecnologia.
Aliás, essa é uma das principais críticas que eu faço ao uso de dinheiro público em inovação,
mas esse assunto merece uma nova coluna ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.