Economia

Gás: Venda da Copel dá monopólio para iniciativa privada

29 abr 2001 às 17:15

No segundo semestre deste ano a Companhia Paranaense de Gás (Compagas) começará a fornecer gás natural para residências e estabelecimentos comerciais de algumas regiões de Curitiba. Paralelo a isso, se o cronograma do governo do Estado for mantido, a Companhia Paranaense de Energia (Copel) vai estar sendo leiloada. Podem parecer dois fatos isolados, mas não são. A Copel é sócia majoritária da Compagas e se toda ela for privatizada, o que dependerá da modelagem da venda, o Estado também perderá o controle da subsidiária.

O problema é que os argumentos usados para a venda da Copel não se aplicam à Compagas. A Copel está vendo vendida porque o governo federal desregulamentou o mercado, permitiu a livre competição na área de energia elétrica e isto inviabilizaria a manutenção de uma estatal.


No caso da Compagas, não há previsão de desregulamentação. Continuará existindo uma única concessão estadual para exploração da venda do gás natural. Isso significa que se a empresa for vendida junto com a Copel, o monopólio será mantido, mas passará de monopólio estatal para monopólio privado.


Além da inexistência de risco de perda de competitividade, já que a Compagas continuará com o monopólio da distribuição de gás natural no Paraná, existe outro agravante: essa fonte energética é que a mais crescerá nos próximos anos no Brasil. A expectativa é que o uso de gás natural quadruplique no prazo de três anos, passando dos atuais 3% da matriz energética para 12% em 2005. Isso aumenta as expectativas de rentabilidade do negócio a médio prazo.


As empresas que estão fazendo a modelagem da venda da Copel devem começar a concluir as análises no mês de julho. Só depois será definida a forma de privatização da empresa, que pode ser dividida em até cinco partes (ver matéria nesta página).


Desde que começou a funcionar, em 1994, a Compagas tem feito investimentos pesados na formação de uma rede de distribuição de gás. Isso gerou resultados financeiros negativos para a emrpesa. Entre 1998 e 2000 a Compagas investiu R$ 60 milhões de recursos dos acionistas na formação de uma rede distribuidora de 240 quilômetros, implantada na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e Ponta Grossa.


Em 1999 a Compagas apresentou um prejuízo de R$ 860 mil. No ano passado o déficit operacional ficou em R$ 3,4 milhões. De acordo com as expectativas da direção da empresa, em 2001 deve haver um equilíbrio financeiro. "Acreditamos que neste ano a empresa consiga equiparar os custos às receitas", diz o presidente da Compagas, Antonio Fernando Krempel. Os lucros devem começar a aparecer em 2002, justamente quando a empresa já poderá estar privatizada. Na prática, se a Compagas for vendida, o comprador estará adquirindo um negócio altamente rentável a curto e médio prazos, já que não haverá a necessidade de investimentos pesados da rede de distribuição.


Para o fornecimento de gás domiciliar a Compagas prevê a implantação de 150 km de rede de distribuição em algumas vias estruturais de Curitiba, com investimentos de R$ 25 milhões até o fim do ano. O gás será usado principalmente para aquecimento em prédios de apartamentos e estabelecimentos comerciais. Os primeiros bairros a serem atendidos são Bigorrilho, Batel e Água Verde.


Segundo o presidente da Compagas, uma possível venda da empresa não traria nenhum problema para os usuários. "Não mudaria nada se fosse privatizada, pois as cláusulas do contrato de concessão assinado com o Governo Federal teriam que continuar sendo respeitadas", afirma Krempel. "Traria algumas vantagens para a empresa, como acesso a financiamentos e menor burocracia administrativa."

Atualmente, a Compagas comercializa cerca de 350 mil m3 de gás natural por mês para cerca de 40 clientes. Todos os consumidores de gás natural no Paraná são indústrias localizadas na RMC. Até o final de 2001 a expectativa é que o volume comercializado chegue a 500 mil m3/mês para cerca de 80 clientes. O fornecimento de gás natural domiciliar e o crescimento do uso de gás natural veicular (GNV) na cidade são os grandes filões de mercado para a empresa. A expectativa é que no próximo ano o mercado industrial de gás natural na RMC esteja saturado. A alternativa será a venda para uso doméstico e como combustível de carros. Hoje existe apenas um posto de combustível que faz abastecimento de gás natural. Até o mês de outubro devem estar em funcionamento outros dez postos.


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