As exportações do Paraná para a Argentina tiveram queda de 77,4% entre janeiro e fevereiro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2001, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Apesar da retração acentuada, o advogado argentino especializado em câmbio, Enrique Gatti, que esteve em Curitiba, acredita que os empresários brasileiros devem manter os negócios com o país vizinho. Para ele, basta que se tomem cuidados básicos para garantir o pagamento.
Gatti esteve em Curitiba para dar uma palestra sobre as consequências das mudanças cambiais na Argentina, promovida pela Associação Comercial do Paraná (ACP) e a Associação das Empresas da Cidade Industrial de Curitiba (Aecic). Muitos exportadores do Brasil deixaram de receber o pagamento dos compradores argentinos. Desde o início do ano, quando a Argentina deixou de lado o sistema de paridade fixa e o peso se desvalorizou, os empresários argentinos vêm tendo muita dificuldade para quitar as dívidas, afirmou Gatti.
''O importador argentino tinha um sistema organizado de pagamentos quando havia a paridade. Hoje, para pagar a mesma dívida, ele tem que dispor de muito mais'', avaliou. Durante dez anos, o valor do peso era atrelado ao dólar. Com o fim da paridade, o peso chegou a valer US$ 4,00. Nesta terça-feira, estava cotado em US$ 2,80.
De acordo com Gatti, se as indústrias argentinas não acharem produtos brasileiros para comprar, vão adquirir dos concorrentes. ''Alguém vai ter que suprir a indústria argentina. Se o Brasil sair do mercado, entram os concorrentes coreanos, chineses e japoneses'', disse.
Para que o exportador brasileiro continue fazendo negócios, mas sem colocar em risco sua própria sanidade financeira, Gatti sugere algumas medidas. ''É preciso ver se o produto ainda vai ter competitividade na Argentina, por causa da desvalorização do peso'', observou. Segundo ele, podem ser feitos vários tipos de contrato de crédito, para garantir o pagamento, mesmo que o comprador se torne inadimplente.
Segundo Gatti, é fácil para o exportador brasileiro cobrar os pagamentos atrasados. ''Primeiro, tem que identificar se a empresa credora quer pagar ou se está aproveitando da situação para dar calote'', disse. Segundo ele, basta uma consulta ao Banco Central da Argentina para saber como estão as finanças da empresa devedora. ''A partir disso, estabelecer conversas, através de um advogado experiente'', sugeriu. Para ele, o exportador brasileiro precisa ter paciência, porque os empresários argentinos estão passando por uma grande mudança que dificultou o gerenciamento das companhias.