Engenheiros de todo o Estado reunidos em Curitiba aprovaram por aclamação um posicionamento contra a privatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel). A votação foi feita na terça-feira à noite durante reunião do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea).
Eles manifestaram a contrariedade pelo fato de o governo querer vender a melhor e mais eficaz empresa de energia do País para sanear as finanças públicas. A reunião contou com cerca de 60 participantes, que demonstraram preocupação também em torno da questão hídrica do Estado. Nenhum deles foi favorável à privatização.
"Não se justifica a venda de uma empresa como a Copel para resolver problemas econômicos do Estado", afirmou o presidente do Crea, Luiz Antonio Rossafa. Segundo ele, é uma temeridade usar um patrimônio de uma empresa lucrativa para fazer caixa. Rossafa enfatizou ainda que a matriz energética paranaense tem de ser definida pelo Estado e não por grupos privados.
Durante o debate em torno da privatização, a maioria dos engenheiros criticou a forma como serão aplicados os recursos da venda. "Estamos num Estado falimentar. É importante que se ressalte que os engenheiros se manifestam contra a venda da Copel, porque há sérios problemas éticos e morais nesse Estado", protestou um dos engenheiros presentes.
Antes de colocar em votação o apoio ou não à venda da Copel, foi feita uma palestra com o advogado Paulo Roberto Pereira de Souza, diretor de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil, no Paraná (OAB). Ele falou sobre o risco de o Estado perder o controle absoluto que tem sobre as represas e barragens da Copel por conta de sua venda. "De fato estaremos privatizando nossos rios. Será que o grupo que comprar a Copel permitirá que seja explorado o turismo às margens das barragens, por exemplo?", questionou o advogado.
Souza vai mais além e avalia que num futuro próximo, quando estiver regulamentada a lei das águas no Brasil, as atuais empresas que compraram as usinas hidrelétricas sejam beneficiadas com a concessão para explorar os recursos hídricos. "Elas terão muito mais vantagens para ganhar as concessões e explorar um bem que será de extrema importância nas próximas décadas", disse.
Para comprovar o receio do advogado, o presidente do Crea citou o caso de uma barragem no rio Parananapanema, no Norte do Estado. O grupo privado que explora o local não permite mais que as empresas de cerâmica de Jataizinho retirem do rio o barro para fazer tijolo. "O rio não é deles, mas eles não permitem que as pessoas chegem próximas das margens", contou Luiz Antonio Rossafa.